Se você é fotógrafo, seja profissional ou amador, então você conhece a Adobe. A empresa é fabricante do Photoshop, um software que é quase onipresente nos computados dos fotógrafos de todo o mundo. Tanto que o nome do programa virou verbo para designar a ação de editar uma foto. Hoje dizemos que uma foto editada, ou adulterada, foi photoshopada. Não feliz de ter esse quase monopólio da edição de imagem, a Adobe também lançou o Lightroom, um programa de organização e edição de imagens em lote que simplificou muito a vida de quem produz muitas imagens. Então, seria de se esperar que a empresa tivesse uma ligação forte com seus principais clientes e defendesse o trabalho deles de forma incondicional. Mas, não é isso o que está acontecendo agora, pelo menos não na visão dos fotógrafos.
A Adobe, assim como a maior parte das gigantes de tecnologia, está investindo pesado em processos de automatização que convencionou-se chamar de IA (Inteligência Artificial). Algum tempo atrás eles vincularam o seu sistema, chamado de Firefly, ao Photoshop, que produz resultados impressionantes. Sejamos justos. Os processos de edição automática presentes anteriormente no Photoshop, que são chamados de Content Aware, já são impressionantes, mas o Firefly é outro nível. Claro que todo mundo que trabalha com fotografia está usando esses novos e revolucionários recursos, mas também está todo mundo com medo de que essas novas tecnologias possam substituir a fotografia básica e partir para a completa geração de imagens.
E a própria Adobe colocou um pouco mais de gasolina nessa fogueira. No começo de maio a Adobe começou a divulgar algumas propagandas em redes sociais colocando em destaque o poder de sua Inteligência Artificial junto ao Photoshop, mas dando a entender que o fotógrafo profissional não é mais necessário para o processo de fotos publicitárias. Na propaganda temos uma foto de um produto e logo depois o mesmo produto com uma imagem de fundo inserida por IA. O texto da propaganda diz: “pule a sessão fotográfica com a geração automática de plano de fundos”. Isso foi suficiente para que muitos fotógrafos se manifestassem de maneira raivosa no twitter (que alguns chamam atualmente de X), acusando a Adobe de abandonar aqueles que ajudaram a empresa a se tornar o que é hoje. De certa forma eu concordo com essa visão dos colegas fotógrafos.
Agora a Sociedade Americana de Fotógrafos de Mídia (ASMP) publicou uma crítica bem pesada contra a Adobe acusando a gigante de atacar aqueles de quem eles dependem. Segundo Gabriella Marks, presidente da ASMP, “A boa fotografia nasce primeiro na visão do fotógrafo e depois ganha vida pelos artesãos que concentraram a sua energia criativa durante anos e décadas para criar a imagem final. Não é mecânico; não é substituível por um botão ou algoritmo. Apesar da sua sugestão, uma boa fotografia é mais do que pixels – é paixão.”
Acredito que a Adobe realmente está focando sua propaganda não em fotógrafos, mas nas empresas que cuidam da confecção das propagandas. E eles afiram com todas as palavras: você não precisa mais pagar o fotógrafo e, no fim, nem se preocupar com direitos autorais, pois a IA vai cuidar de tudo. E eles estão certos. Infelizmente o mundo mudou e a tecnologia avançou. A fotografia profissional está mudando e cabe aos fotógrafos mudar junto. Já falei isso em outros textos e vídeos. O fotógrafo deve aprender e dominar o processo de criação de imagens por IA. Todo um setor da fotografia profissional vai simplesmente desaparecer. E cabe a nós nos adaptarmos.
Fonte: Petapixel