Acho que não é o caso da fotografia ser racista, e sim das pessoas que construíram a técnica serem ou não racistas. As pessoas atualmente entraram na prática de denunciar tudo como racismo e atacar algumas coisas que estão estabelecidas há muito tempo. Do ponto de vista da cor, por muito tempo a representação das pessoas negras em fotografias foi afetada pelo o que chamávamos de cartões Shirley.
Os cartões Shirley, produzidos pela Kodak a partir dos anos 1940, eram usados pelos laboratórios na padronização de cores e tons de pele de impressões fotográficas. As Shirleys, como passaram a ser chamadas as mulheres que apareciam nesses cartões, eram invariavelmente brancas, o que causava dificuldade nos ajustes dos retratos que incluíam pessoas de tons de pele variados. O resultado era que pessoas negras possuíam uma representação da cor de pele muito ruim e, quando elas apareciam na mesma foto com uma pessoa branca, sua pele ficava tão mais escura que detalhes sumiam. Esse problema foi suplantado apenas com a fotografia digital, que passou a levar a pele negra (ou preta) em conta no processo de calibração.
Você pode ler sobre esse tema fantástico no texto “Questão de Pele” da Lorna Roth que foi publicado em 2016 na Revista Zum.
Mas, agora, por conta dos protestos contra o racismo nos Estados Unidos e, por consequência deles, no mundo inteiro, uma nova estirpe de pessoas está dominando as redes sociais e questionando qualquer coisa. Estou falando dos Guerreiros da Justiça Social. Sim, eles existem há muito tempo, mas nesses momentos eles tomam coragem de colocar a cabeça para fora da toca e questionar tudo o que aparece pela frente.
Em um artigo publicado no dia 06 de junho no site Peta Pixel, a fotógrafa Theresa Bear criticou a nomenclatura do sistema Master/Slave no disparo de flash por comando remoto. Para quem não sabe, existe a possibilidade de disparar um flash dedicado fora da câmera utilizando outro flash dedicado em sua câmera. Nesse caso, o flash que está controlando a operação é denominado como Master e o flash que está sendo controla fora da câmera é denominado como Slave.
A fotógrafa escreveu em seu artigo:
“Há muitas coisas na indústria da fotografia que precisam mudar para incluir nossa comunidade negra. Uma coisa importante é um botão em cada unidade de flash fabricado na indústria fotográfica chamada modo “escravo”.
Essencialmente, é usado para instruir uma unidade de flash a monitorar a luz recebida e disparar quando detecta a luz produzida por outra unidade de disparo de unidade de flash chamada “mestre” para disparar.”
Ou seja, a pessoa está afirmando que toda a comunidade negra está se sentindo excluída da fotografia por conta de um sistema chamado Master/Slave em equipamentos de iluminação. Longe de mim achar que o racismo e o preconceito não existem (são coisas diferentes), mas ver racismo em tudo o que nos cerca é uma armadilha muito complicada. No artigo, a fotógrafa sugere trocar esses termos por transmissor/receptor, o que já acontece com os rádio flashes. Mas, isso realmente é importante? A pessoa realmente se sente tão frágil ao ponto de isso causar repudia?
O preconceito e o racismo foram os causadores de grandes males nos últimos séculos. Por conta de uma raça se achar superior, populações inteiras foram dizimadas. Temos que atacar as políticas e sistemas sociais que tornam essas práticas possíveis e até aceitáveis. E acho que tem muita coisa mais importante a ser feita do que mudar uma palavra em um equipamento de iluminação que é utilizado de forma democrática por qualquer raça, credo e gênero do planeta.
Eu como descendente de Eslavos me sinto ofendidíssimo com esse termo! Acho que tinhamos que mudar a palavra slave no mundo todo por pessoa-subjugada-a-força-por-caucasiano-malfeitor. kkkkk
É uma piada mas não duvido que alguém levasse isso a sério em algum momento. Mas mesmo assim estaria errado. Mesmo que as etimologias sejam próximas (nome do país e escravo), escravo nao significa pessoa subjugada por caucasiano ou pessoa negra subjugada por caucasiano. Escravidão existe desde que existe nossa espécie, basicamente. Pessoas de todas as raças/fenótipos/genótipos escravizaram pessoas de todos os fenótipos. Uma raça escravizar outros dela mesma é mais comum historicamente do que o contrário.