Isso não é uma crítica aprofundada, mas apenas a opinião de um fã que ama os personagens da DC e, em especial, o Superman. Em 2017 chegava às telas o filme da Liga da Justiça. A Warner estava com muita inveja dos bilhões de dólares que a Disney estava faturando com os personagens da Marvel no cinema e decidiu colocar seu time de peso para brilhar nas telas. A meu ver foi uma jogada arriscada, visto que a concorrente tinha criado um universo compartilhado ao longo de vários anos. A DC não tinha isso e logo jogou a sua principal equipe de heróis nos cinemas.
O filme, que eu gostei bastante, chegou com vários probleminhas e sofreu várias críticas negativas. Um dos problemas que aconteceu durante a produção foi a troca de diretor. Zack Snyder deixou o posto de diretor por conta de problemas familiares e quem assumiu o posto foi Joss Whedon, que já havia dirigido o excelente primeiro filme dos Vingadores. O resultado é que Liga da Justiça tem várias características que são muito comuns a Joss Whedon e aos filmes da Marvel, como as várias piadinhas e sarcasmos durante o desenvolvimento do filme. Quase que imediatamente, fãs começaram a questionar se não existiria uma versão com as características do diretor Zack Snyder. Essa informação circulou pelo mundo da internet como uma lenda urbana e, talvez por conta de uma jogada de marketing, a versão do diretor foi confirmada alguns anos depois e seria lançada diretamente no streaming em março de 2021.
Só lembrando que isso não é inédito. Na década de 70, Richard Donner foi contratado para fazer dois filmes do Superman. Na cabeça dele os dois filmes contariam uma única história e, por conta disso, ele gravou várias cenas para o segundo filme ainda nas gravações do primeiro. Um dos motivos disso, mas não o único, era aproveitar e gravar todas as cenas de Marlon Brando para os dois filmes, por conta do elevado cachê do ator. Mas, as conturbadas disputas entre o diretor e os produtores do filme fizeram com que Donner pulasse fora e outro diretor fosse contratado. Isso afetou muito a história, pois Marlon Brando e Gene Hackman se recusaram a ficar no projeto por conta da saída do diretor. Marlon Bradno não aparece no segundo filme (sendo substituído na história pela mãe de Kal-el) e as participações de Hackman no segundo filme são as que já estavam gravadas desde o primei e em outros momentos com dublês. Somente em 2006 a versão de Richard Donner de Superman II foi liberada ao mundo depois que o diretor teve acesso ao material e a oportunidade de montar o seu filme. Eu digo que essa versão é muito melhor do que a original de 1980.
Porém, com a versão de Zack Snyder foi um pouco diferente. O diretor não apenas montou um filme com as cenas que ele tinha gravado e não foram aproveitadas, mas ele recebeu um orçamento de US$ 70 milhões para chamar o elenco de volta e gravar novas cenas. Ou seja, um investimento considerável da Warner no projeto. O resultado foi um filme com 4 horas de duração com um significado totalmente diferente, mas que manteve a espinha dorsal do projeto de 2017. Do ponto de vista da história, o Lobo da Estepe continua sendo o principal oponente, com uma repaginada completa no visual, mas temos a introdução de Darkseid e demais personagens do planeta Apokolips. Inclusive, toda a cena de batalha entre as amazonas, os atlantes, deuses e homens contra os exércitos invasores de Apokolips tem um novo sentido nessa versão.
No quesito dos personagens novos que não estavam presentes na versão de 2017, temos o já citado Darkseid, o soberano de Apokolips, seu conselheiro DeSaad e, mesmo não citada, a Vovó Bondade, que aparece apenas na cena final e em segundo plano, mas sabemos que é ela. Porém, a nova presença mais marcante foi de Ajax, o Caçador de Marte, que fez apenas duas pontinhas, mas já impressionou e deixou os fãs com um grande sorriso no rosto.
As duas horas a mais de filme nos trazem uma tonelada de cenas extras. A maior parte delas para aprofundar as motivações de cada personagem, com destaque para aqueles que apareceram pela primeira vez nessa produção. O Cyborg (Victor Stone) tem seu relacionamento conturbado com o pai mostrado de maneira mais detalhada, mas quem brilha nessa extensão de cenas é o Flash (Barry Allen). Na versão de 2017, o Flash era um alívio cômico do filme. Foi mostrado como uma criança, um covarde e desastrado que vivia tropeçando durante as corridas. Aqui ele é rápido, destemido, sabe o que fazer com seus poderes, tem uma participação decisiva no desfecho da principal batalha e, acima de tudo, mantém a sua personalidade. Todos os outros personagens possuem muitas cenas extras, mas esses dois mostram os desenvolvimentos mais importantes de personalidade.
Mas, nem tudo são flores. Na sua vontade de explicar muitas coisas de maneiras claras, o filme se torna arrastado em alguns pontos. Sim, esse filme possui algumas gordurinhas que poderiam ser cortadas, mas essa produção é como aquele filho que o diretor não quer censurar ou limitar. E como o objetivo não é angariar bilheterias gigantescas no cinema, esse tipo de excesso foi permitido. Várias cenas de ação em câmera lenta também vão causar celeumas em várias pessoas, mas faz parte da estética visual do diretor e é utilizado em quase todos os seus filmes de ação. Por fim, um ponto bacana, mas que eu acho negativo, foi que o filme deixou um gancho para uma continuação que seria, no mínimo, incrível, mas que provavelmente não vai acontecer. Bem, muitos diziam que essa versão também não tinha possibilidade de acontecer. Só o tempo dirá. E antes que me perguntem, sim, eu gostei da participação do Coringa.
Liga da Justiça The Snyder Cut é um filme épico e muito mais violento do que estamos acostumados em produções baseadas em histórias em quadrinhos. Tem 4 horas de duração, mas muita gente diz que assistiu sem cansar e com vontade de ver mais. Sou uma dessas pessoas. Temos mais uma oportunidade de ver os personagens que tanto gostamos e interpretados por bons atores. Uma história que finalmente foi contada com a grandiosidade e a megalomania que merecia. O filme está disponível em várias plataformas no Brasil para aluguel, inclusive no Google Play. Um lançamento mundial que chega instantaneamente na casa de todas as pessoas que possuem acesso à internet e um cartão de crédito. O futuro chegou meus amigos, e estamos vivendo ele.