Eu sou um fotógrafo de nu artístico. Principalmente feminino. Já tive clientes que queriam fazer fotos em locais públicos, ou até proibidos. Os locais proibidos eu sempre neguei fazer, mas já fiz várias sessões em locais públicos, como praças, ruas, parques e fachadas de edifícios. Também não são locais onde um ensaio desse tipo seria normalmente feito, mas podemos analisar o local, o movimento durante os dias da semana, a questão da segurança. Planejar tudo nos mínimos detalhes, pois a sessão tem que ser rápida. E, se durante a preparação, notar que o local é inviável, então desistimos e procuramos outro ponto. Mas, nessas aventuras sempre tive o medo de ser preso (imaginando aqui a manchete no pequeno jornal da cidade).
Isso tudo no Brasil, onde um ato desses seria uma contravenção e renderia uma pequena dor de cabeça. Agora, quando você está em um país com leis extremamente rígidas, então você precisa ter um pouco mais de cuidado e, principalmente, não ser um idiota. Não foi o que aconteceu com o fotógrafo russo Alexey Kontsov que simplesmente decidiu fazer uma sessão fotográfica coletiva de nu feminino em Dubai, nos Emirados Árabes. Logo lá, um país extremamente rígido com esse tipo de coisa. Tudo aconteceu em uma suíte de um hotel na cidade. Agora, o mais bacana, é que a polícia descobriu a façanha por uma idiotice do próprio fotógrafo. Alexey fez uma live com seu celular mostrando várias garotas nuas na sacada do hotel. Várias fotos dos bastidores do ensaio também foram postadas pelo fotógrafo.
A polícia descobriu o local pelas imagens da gravação e invadiu o apartamento. Todo mundo foi preso com base nas leis de decência pública (o que incluí nudez). Alguns veículos de comunicação afirmam que foram detidas 40 mulheres no apartamento. Ninguém sabe ao certo a quantidade de modelos envolvidas, mas o consulado ucraniano declarou que entre as detidas estão 11 modelos daquele país. Muitas modelos foram identificadas nessa bagunça, pois postaram em suas próprias redes sociais que estavam participando da sessão fotográfica e depois essas contas ficaram em silêncio. Para as modelos, segundo a lei dos Emirados Árabes, o crime do qual foram acusadas acarretam uma pena de até seis meses de prisão e/ou multa de 5.000 dirham ($ 1.360).
O fotógrafo está diante de uma punição mais severa, tendo postado o conteúdo nas redes sociais. De acordo com um tweet da Polícia de Dubai, sua multa varia entre US $ 68.000 e US $ 136.000, bem como uma possível sentença de prisão que pode durar até 18 meses. Uma declaração da polícia sobre o incidente diz que “tais comportamentos inaceitáveis não refletem os valores e a ética da sociedade dos Emirados” e que qualquer pessoa que visite ou more nos Emirados Árabes Unidos está sujeita às suas leis. Não há exceções para turistas.
O ato pode ser analisado e interpretado de várias maneiras. Poderia ser simplesmente um manifesto artístico contra as leis do local, visto que são muito rígidas para determinados assuntos. Mas, do ponto de vista prático, me lembra muito a concepção de que fotógrafos são como pombos, e onde chegam deixam um pouco de titica. Sabe aquele sentimento de que muitos sentem de que as normas não se aplicam a ele pelo fato de ser fotógrafo. Vemos isso acontecer em diversas situações, desde um fotógrafo de casamento que não respeita a homilia até pessoas que invadem locais proibidos ou não respeitam normas de segurança para conseguir a foto perfeita. Se você está em um país com leis rígidas e vai realizar uma sessão fotográfica que pode ser considerada um crime, o mínimo que pode fazer é manter sigilo.
Fonte: DIY