Um dos grandes erros dos fotógrafos iniciantes é o fato de investir muito dinheiro na compra de uma câmera e esquecer do investimento em lentes. Uma câmera básica (ou intermediária) com uma boa lente, rende muito mais em questão de qualidade de imagem do que uma câmera de padrão elevado utilizando uma lente ruim. No final, o que uma câmera mais robusta oferece é conforto e recursos na hora da utilização. Os sensores desses equipamentos são muito parecidos e uma lente com muita qualidade ótica pode ser o fator determinante para sua fotografia. Existem lentes de entrada, lentes intermediárias e as chamadas lentes profissionais. Lembrando que quanto melhor a lente, maior será o seu valor de mercado.
Existem lentes que são fabricadas pelas próprias empresas que fabricam as câmeras, e são as lentes mais indicadas para utilizar com esses equipamentos. Câmeras Canon funcionam muito bem com lentes Canon, e lentes Nikon (que possuem nomenclatura de Nikkor) são as mais indicadas para câmeras Nikon. Mas, existem empresas que fabricam lentes paralelas para todas as marcas de câmeras fotográficas. As empresas mais famosas são a Sigma e a Tamron. Essas empresas possuem lentes para Canon, Nikon, Pentax e Sony. Algumas com ótima qualidade, outras nem tanto. Uma empresa que entrou recentemente no mercado ocidental com suas lentes foi a Yongnuo, fabricante chinesa que inundou as lojas com lentes fixas (também chamadas de Prime) de diversas distâncias focais e com preços muito baixos. Felizmente, levando em conta o custo benefício, as lentes Yongnuo possuem qualidade aceitável.
Cabe aqui um pequeno destaque para a série Art da Sigma. Nos últimos anos a empresa vem apostando em uma linha de lentes de qualidade profissional com grande luminosidade e qualidade soberba dos cristais. Porém, mesmo com a qualidade muito acima da média, as lentes da série Art, em alguns casos, costumam ser mais baratas do que as lentes profissionais da Canon e Nikon. Esse fato fez com que os fotógrafos apostassem pesado nessa linha e trouxe grande popularidade para a empresa.
Distância focal das lentes
Cada lente possuí uma distância focal. É através dessa distância focal que classificamos as lentes dentro da fotografia, mas primeiro é importante entender o que isso quer dizer. Toda lente tem marcado em seu corpo a distância focal. Por exemplo, se uma lente tem marcado em seu corpo que a distância focal é de 50mm (uma das lentes mais comum na fotografia), essa informação está me dizendo que a distância entre o ponto nodal da lente e o sensor da câmera é de 50mm. Sei que essa informação confundiu ainda mais a mente de vocês, mas vamos explicar.
Voltando ao conceito básico da fotografia, vamos falar da câmera escura de orifício. Imagine que você está em um quarto totalmente escuro, sem nenhum raio de luz entrando no ambiente. Nesse momento, você vai até um dos lados desse quarto e, utilizando uma furadeira, faz um pequeno buraco na parede. A luz que vai entrar por esse orifício vai projetar na parede oposta do quarto tudo o que houver do outro lado dessa parede. Porém, a imagem formada estará de ponta cabeça.
Esse mesmo processo acontece com o olho humano e com nossa câmera fotográfica. A imagem entra pela lente e, no caminho, os raios se invertem e a imagem é projetada invertida no sensor. O ponto onde a imagem se inverte nós chamamos de ponto nodal. Então, a distância focal de uma lente é determinada pela distância entre o ponto onde a imagem se inverte até o sensor. Quanto mais longa a lente, maior será essa distância. Quanto mais curta a lente, menor será essa distância.
Mas, qual a implicação prática disso? A distância focal implica diretamente no ângulo de visão que cada lente vai apresentar. Uma lente com distância focal pequena, tipo 28mm, vai ter um ângulo de visão amplo. Uma lente com distância focal longa, tipo 200mm, vai ter um ângulo de visão bem pequeno.
Nesse ponto já podemos dizer que classificamos as lentes fotográficas em três tipos: as grande angulares, as lentes normais e as teleobjetivas.
As grande angulares, como o nome já diz, são lentes com grande ângulo de visão. São indicadas para fotografia de paisagem e também para eventos sociais. Por possuir um grande campo de visão, as lentes grande angulares tendem a distorcer os objetos. Quanto mais próximos esses objetos estiverem da lente, maior será essa distorção, afetando a percepção do tamanho desse objeto. A chamada distorção de perspectiva está presente em todas as lentes desse tipo. Outro tipo de distorção é a que chamamos de distorção de barril que afeta a borda das imagens. Normalmente as bordas tendem a sofrer uma curvatura nesse tipo de lente. Nesse ponto podemos dizer que existem dois tipos de lente que trabalham com essa distorção. As lentes retilíneas tentam reduzir e até eliminar a distorção de barril. E temos as lentes curvilíneas (ou olho de peixe) que transformam a distorção de barril em uma qualidade, oferecendo imagens bem peculiares. Deve-se tomar cuidado para não deixar nada muito importante nas bordas da lente e evitar fazer retratos com elas. Um exemplo extremo de lente grande angular é a Nikkor 6mm f/2,8 Fisheye com um extremo ângulo de visão de 220º.
As lentes normais estão da faixa de 50mm a 70mm de distância focal. Vejo muita gente dizendo a besteira de que elas são chamadas de lentes normais por terem o mesmo ângulo de visão do olho humano. Isso é errado, elas são chamadas de lentes normais pelo fato de ser a partir de 50mm que a imagem gerada por essas lentes não causa estranheza ao olho humano. Ou seja, passamos a não perceber mais na imagem a distorção característica de uma lente grande angular. Lembrando que lentes com distância focal de 85mm são as preferidas pelos fotógrafos retratistas por conta da quase ausência de distorção.
E por fim temos as lentes teleobjetivas, com distâncias focais que começam em 100mm e podem ir acima dos 1000mm, como a Canon que possui uma superteleobjetiva com distância focal de 1.200mm que custa a bagatela de US$ 120.000,00. A lente é fabricada apenas por encomenda e a empresa produz uma média de 2 unidades por ano. As teleobjetivas possuem uso específicos como fotografia de natureza, fotografia de esportes e, em alguns casos, fotografia social.
Lentes Fixas x Lentes Zoom
Agora que já classificamos as lentes quanto a sua distância focal, existe mais uma classificação que engloba todas as lentes fotográficas. Elas podem ser lentes fixas ou lentes zoom.
Lentes fixas, que também chamamos de lentes prime, são lentes que não possuem variação de distância focal. Normalmente elas possuem um preço mais acessível, ótima qualidade de imagem e uma grande abertura de diafragma (vamos falar disso no próximo capítulo). São uma boa opção para quem quer uma grande qualidade de imagem, trabalhar em ambientes com pouco iluminação e gastar uma quantidade mais modesta de dinheiro. O ponto negativo é que para trabalhar diferentes enquadramentos o fotógrafo precisa se movimentar. É o famoso zoom pezinho (um passinho para frente, um passinho para trás). Lentes prime famosas são as 15mm, as 28mm, 50mm, 85mm e 100mm.
As lentes zoom já se explicam pelo próprio nome. Elas possuem distância focal variada. Normalmente começam em uma grande angular e vão até uma lente normal, ou até mesmo uma teleobjetiva (a maior parte dos fabricantes possuem lentes com distância focal de 18-200mm). A grande vantagem deste tipo de lente é a possibilidade de fazer diferentes tipos de enquadramento da mesma cena sem sair do lugar. A desvantagem é a grande quantidade de elementos óticos que essas lentes possuem. Quanto mais elementos em uma lente, pior vai ser a qualidade de imagem. Outra desvantagem é que a maior parte das lentes zoom não possuem a mesma abertura de diafragma ao longo de toda a distância focal. Normalmente elas deixam entrar mais luz na posição de grande angular e menos luz na posição de teleobjetiva. Lentes profissionais possuem abertura de diafragma fixa ao longo de toda a distância focal, mas o valor desse tipo de lente é muito mais alto.
Uma curiosidade interessante em relação à lentes com zoom é a propaganda que fabricantes e lojas fazem para a venda das câmeras compactas ultrazoom. Elas possuem grande variação na distância focal e normalmente a propaganda apenas informa algo como 20x de zoom ótico. Essa é uma informação que não me diz nada, pois não foi informado a distância focal inicial. Se é uma lente que começa em 35mm não é uma boa grande angular, e a grande angular é mais importante do que uma teleobjetiva no geral. Não se engane com essas propagandas, sempre pergunte sobre a distância focal da lente e compre o que for de maior compatibilidade com suas necessidades.
Distância mínima de foco
Cada lente possui o que chamamos de distância mínima de foco. Normalmente essa é uma das informações que está marcada no corpo da lente. A distância mínima de foco é a distância mínima que você pode chegar do objeto fotografado onde a lente vai conseguir fazer o foco. Nas lentes primes, geralmente a distância mínima de foco é a distância focal em formato de centímetros. Exemplo, uma lente com 50mm de distância focal consegue se aproximar a 50cm do objeto e conseguir fazer o foco. Menos que 50cm e a lente não vai conseguir focar a imagem.
Lentes com distância focal variável, geralmente, possuem uma distância mínima de foco menor, podendo se aproximar mais do assunto. Geralmente, essa distância mínima de foco está indicada no corpo da lente.
É nesse ponto que encontramos as lentes classificadas como Macro. Esse tipo de lente, ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, não ampliam o assunto. Elas simplesmente conseguem se aproximar do assunto fotografado mantendo a função de foco. Geralmente as lentes macro começam com fator de ampliação em 1:1, ou seja. 1 cm do assunto fotografado será representado em 1cm do sensor fotográfico (ou filme). Existem lentes com fator de ampliação até 5:1, onde 1cm do assunto fotografado será representado em 5 cm do sensor ou filme fotográfico. Um exemplo desse tipo de lente é a Canon MP-E 65mm f/2,8. É uma lente específica para macrofotografia e com foco manual que permite uma ampliação de até 5x.
Fator de Corte
E para finalizar a questão das lentes, temos que falar sobre o fator de corte e sua importância para a fotografia digital. Quando falamos das câmeras reflex com diferentes tamanhos de sensores, temos que levar em conta que isso influencia no uso das lentes nessas câmeras. As lentes fotográficas são fabricadas levando em conta o sistema 35mm, ou seja, sensores com tamanho de 36x24mm. Quando essas lentes são utilizadas em câmeras com sensores menores (APS-C) o ângulo de visão dessas lentes sofre uma pequena variação que chamamos de fator de corte. Para entender melhor esse fenômeno, vamos utilizar as imagens abaixo.
Imagine que na figura abaixo temos o ângulo de visão de uma lente 50mm sendo utilizada em uma câmera com sensor full frame (sensor de 36x24mm). O círculo é a lente e o retângulo no centro é o sensor fotográfico. Veja como o enquadramento deste retrato acontece dentro da câmera.
Agora, na figura abaixo, vamos utilizar a mesma lente 50mm em uma câmera com sensor APS-C. Veja que, se eu estiver na mesma distância com as duas câmeras a imagem que será registrada pelo sensor menor será levemente diferente do que o enquadramento que consegui com a full frame. A impressão é que demos um pequeno zoom na imagem, pois a lente vai ter um ângulo de visão diferente nas duas câmeras.
Por isso que temos uma pequena conta a fazer quando estamos utilizando câmeras com sensor APS-C. Nas câmeras Nikon pegamos a distância focal e multiplicamos por 1,5. Nas câmeras Canon a multiplicação é por 1,6. Essa diferença é por conta do sensor APS-C da Canon ser um pouco menor. Então, no caso de Nikon, uma lente 50mm multiplicada por 1,5 chegamos ao resultado de 75mm. Então uma lente 50mm em uma câmera com sensor APS-C da Nikon vai ter o ângulo de visão de uma lente 75mm, mas mantendo as características de distorção da lente 50mm.
Para lentes teleobjetivas o fator de corte é interessante, pois multiplica o ângulo de visão dessas lentes. Mas, as lentes grande angulares perdem a sua principal característica de amplo ângulo de visão. Isso é problemático, pois as lentes grande angulares de qualidade são muito caras e elas acabem perdendo o seu principal atrativo em câmeras com sensor APS-C. Com essa realidade de sensores com tamanhos diferentes em câmeras reflex, surgiram lentes especificamente produzidas para as câmeras cropadas. Na Canon as lentes EF-S são produzidas para câmeras com sensor cropado. Já na Nikon as lentes DX são específicas para essas câmeras. Uma das características dessas lentes são as grande angulares com distância focal de 18mm nas lentes zoom para compensar o fator de corte.
E o Objeto Fotográfico
Embora o objeto fotográfico não seja relacionado apenas às lentes, decidi colocar essa pequena reflexão no final desse capítulo, para não ter que criar um texto apenas com ele. Já falamos de luz e falamos da câmera. Agora nos resta comentar sobre o terceiro pé desse pequeno tripé da ação fotográfica: o objeto. O objeto é um conceito muito importante para o fotógrafo. Sempre pergunto para meus alunos: o que você gosta de fotografar. Se a pessoa ainda está “verde” no mundo da fotografia, geralmente a resposta é que gosta de fotografar de tudo um pouco. Essa pessoa ainda vai evoluir e descobrir o que vai mover a sua paixão na fotografia.
O objeto é aquilo que gostamos, de fotografar. O objeto preferido varia de pessoa para pessoa. Eu mesmo tenho uma predileção pelo nu artístico, o retrato feminino, espetáculos de dança e teatro e uma grande obsessão por fotografar hibiscos. Sim, essa última é estranha, mas gosto muito dessa flor. O meu objetivo é fotografar todas as espécies de hibiscos do Brasil. Já fotografei 23. Faltam algumas.
Do ponto de vista fotográfico, o objeto é o que reflete luz para nossa câmera. E essa é a importância do conceito. Você deve pensar que só vemos as coisas por que temos luz. Sem luz não conseguimos enxergar nada. Então, não são os objetos que são vistos por nossos olhos, e sim a luz que reflete desses objetos e chega até nossos olhos. Como a luz viaja há uma velocidade descomunal, não percebemos esse pequeno atraso. Quem pratica astrofotografia entende muito bem o que estou falando. A luz de constelações e galáxias demoram milhares de anos para chegar até o nosso pequeno planeta. Sempre que olhamos para o céu estrelado estamos olhando para o passado.
Assim, nosso objeto reflete a luz, e o fato de refletir luz até nossas câmeras faz com que essa luz assuma qualidades e cores que são próprios desse objeto. Nos próximos capítulos teremos vários exemplos de como modificamos e como a luz se modifica ao capturarmos uma imagem. Uma pequena viagem pelos segredos e maravilhas da fotografia.
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