Muito complicado entender e explicar a arte atualmente, a chamada arte moderna. Muitos apontam que a arte moderna é, pura e simplesmente, uma picaretagem que visa apenas enrolar as pessoas. Na maior parte das vezes é isso mesmo, sem falar no ponto de que muitos artistas famosos gostam de trollar sua audiência e as galerias. Até os anos de 1800 a arte era vinculada à habilidade de criar alguma coisa. O artista tinha habilidade manual para pintar, desenhar, esculpir e essa habilidade era vendida para quem quisesse um retrato, uma escultura ou decoração de prédios e casas. A questão da habilidade pra produzir arte é o que alimenta o debate sobre a fotografia ser ou não arte, já que você não precisa ter nenhuma habilidade específica para poder fotografar. Uma característica importante é que os artistas tentavam reproduzir o mundo real em suas pinturas e esculturas. Para isso, era necessário treino, estudo e muita habilidade.
Atualmente a arte é muito mais subjetiva. Você não precisa mais ter habilidade e sim um ideal, passar uma mensagem, fazer o seu protesto. Então, as obras artísticas estão mais ligadas a uma mensagem política ou filosófica e a habilidade para produzir essa obra não é mais tão importante. O objetivo da arte não é mais reproduzir o mundo real e sim questioná-lo.
Junto a isso temos a “construção” dos grandes artistas via galerias e críticos de arte. Geralmente, a população, que não entende muito sobre arte, compra o discurso das galerias e críticos para não parecer ignorante e os grandes astros desse mercado são criados. Nessa realidade atual, o nome do artista é muito mais importante do que a sua obra. É triste, mas infelizmente é assim que acontece.
Eu tenho grande dificuldade de apreciar arte moderna. Sou mais adepto do que era feito nos movimentos artísticos do passado. Apreciar uma pintura ou escultura que, a sua maneira, tentava reproduzir a realidade é uma grande viagem para mim.
Um exemplo dessa arte moderna atual é o que aconteceu com o museu Kunsten de Arte Moderna em Aalborg, na Dinamarca. Eles forneceram a quantia de US$ 84.000 para o artista conceitual Jens Haaning para ele recriar duas obras anteriores de sua autoria. Há mais de 10 anos o artista criou o quadro “An Average Danish Annual Income” que nada mais era do que várias notas de dinheiro emolduradas e mostrando a renda média anual de um dinamarquês. O museu queria recriar a obra com valores atuais dessa renda. Porém, Jens simplesmente mandou um quadro em branco para o museu e disse que o nome da obra de arte é “Pegue o dinheiro e corra”.
O artista declara que a obra, e o fato de ter ficado com o dinheiro, é um protesto pela renda miserável que a maior parte dos artistas está sujeita e que as pessoas devem começar a romper as estruturas que as prendem. Segundo Jens “A obra de arte é essencialmente sobre as condições de trabalho dos artistas. Eu encorajo outras pessoas que têm condições de trabalho tão miseráveis quanto eu a fazer o mesmo. Se eles estão sentados em algum trabalho idiota e não estão recebendo dinheiro e na verdade estão sendo solicitados a dar dinheiro para ir para o trabalho, então pegue tudo e fuja.”
O museu ainda não decidiu o que vai fazer. Na realidade, o contrato assinado entre as partes indica que o artista tem prazo até janeiro para finalizar a obra e a instituição está confiante que o artista entregará o dinheiro de volta. Mas, pensando no que falei no começo do texto sobre o atual estado da arte moderna no mundo, vale destacar que o diretor do museu, Lasse Andersson, declarou: “Eu realmente ri quando vi isso. Não era o que havíamos combinado no contrato, mas conseguimos uma arte nova e interessante.”
Mesmo não sendo o que eles esperavam, o museu está expondo a obra em branco em sua exposição chamada Work It Out, que enfoca o futuro do trabalho.
Fonte: Petapixel.