A maior parte dos jovens não vai saber o que é isso, mas uns 20 anos atrás a fotografia digital estava apenas se arrastando no mundo da tecnologia. Para termos uma ideia, a Canon D30, considerada a primeira DSLR da Canon com verdadeira qualidade profissional, chegou ao mercado apenas em outubro de 2000 equipada com um sensor de 3,25 megapixels de resolução máxima e custando 358.000 ienes, o que na época era uma fortuna para o fotógrafo médio. Então ainda trabalhávamos com câmeras de filme fotográfico. Antes de fotografar era necessário ir até uma loja especializada em fotografia e comprar rolos de filmes. Os mais indicados para trabalho profissional eram o Fuji Pro Value ou o Kodak Pro Image. Depois de fotografar, com rolos que tinham apenas 36 poses disponíveis, era necessário levar até um laboratório e esperar alguns dias para poder ver como as fotos ficaram. Acho que o principal impacto da fotografia digital, e não digo que isso seja necessariamente positivo, foi aumentar consideravelmente a quantidade de fotos que executamos. Há 20 anos era possível entregar um trabalho de fotografia de casamento com 400 fotos (em média). Atualmente vejo fotógrafos entregando 5 mil fotos para seus clientes de eventos sociais.
Pontos negativos de tudo isso. Na maior parte dos casos, principalmente em cidades do interior, esse filme fotográfico era armazenado de maneira incorreta, o que resultava em problemas na representação das cores. Também era muito complicado achar filmes profissionais com diferentes sensibilidades (ISO ou ASA), sendo que o ISO 200 era o mais fácil de achar. Não era todo laboratório que revelava o seu filme de maneira competente e com qualidade. Normalmente essas lojas usavam produtos químicos além dos prazos indicados e não gostavam de fazer revelação manual onde cada quadro do filme tinha uma leitura de luz individual. Normalmente eles faziam a leitura no primeiro quadro do filme e aplicavam a mesma configuração para as outras 35 fotos. Também tinha o problema do filme fotográfico rasgar dentro da câmera no meio da sessão ou não encaixar direito no engate e ficar solto dentro da câmera. Nesses casos você só percebia que havia algo de errado quando a câmera batia a 39º foto e não dava o sinal do filme ter acabado. E, por último, o simples fato de ter que pagar para revelar suas fotos e ver o que tinha acontecido durante a sessão fotográfica.
Quando os minilabs digitais chegaram aqui na região, onde o filme era digitalizado pela máquina e depois a foto era impressa direto do arquivo digital, ficou um pouco mais fácil (e barato), pois havia a possibilidade de revelar o filme e pegar um arquivo digital em CD. Foi nesse momento que comecei a aprender a utilizar o Photoshop para corrigir problemas nas fotos.
Não sinto falta nenhuma dessa época e acho que a tecnologia digital é a melhor coisa que aconteceu para a fotografia em seus quase 200 anos de história. Mas, sempre temos os saudosistas de plantão que acham que naquela época era melhor ou que querem experimentar a emoção de fotografar com filme e encarar a imprevisibilidade de todo o processo. Por esse motivo que filmes fotográficos são fabricados até hoje, mas não podemos dizer a mesma coisa das câmeras fotográficas que utilizam filmes. A maior parte dos grandes fabricantes deixou de investir nesse mercado e hoje temos equipamentos quase artesanais sendo produzidos ou câmeras voltadas para lomografia, que no fundo são sinônimos de câmeras não muito boas.
É por isso que todo mundo do meio fotográfico ficou muito surpreso quando a Ricoh Imaging, empresa que é dona das marcas Ricoh e Pentax, anunciou no dia 19 de dezembro do ano passado que estava em curso um projeto para voltar a fabricar câmeras fotográficas que utilizam filme fotográfico. Esse planejamento foi anunciado em um vídeo no canal do Youtube da marca. No vídeo o designer de produto Takeo Suzuki explicou que a empresa quer incentivar os jovens a entrarem na fotografia cinematográfica. Eles não estão apenas pensando em fazer câmeras de filme a um preço acessível, mas também serão apoiados por uma garantia sólida. O plano é investir em uma linha com 4 categorias de câmera. A primeira câmera a ser lançada seria uma compacta totalmente automática do tipo aponte e atire (ficou estranho traduzir o termo point and shot). A segunda câmera será uma compacta avançada, a terceira uma SLR automática e a quarte e última uma SLR totalmente mecânica (se tivermos sorte uma versão atualizada da finada Pentax K1000).
Sinceramente, não tenho saudades, não tenho nostalgia e acho que câmeras de filme só ficam bonitas na estante como decoração, mas tem gente que gostaria de experimentar esse mundo e ver como os neandertais fotografavam antes da fotografia digital. Acho que todas as experiências são válidas, mas não são práticas e não tenho mais paciência para isso.
Fonte: Fstoppers