Olha que bacana perceber a passagem do tempo. Um disco pode ser tão interessante que você não percebe o quanto ele está ficando velho e, quando você é lembrado de há quanto tempo esse disco está em sua estante, a surpresa é edificante. Isso aconteceu com o primeiro disco do Raimundos (cujo nome da banda foi inspirado nos Ramones,) que está completando 29 anos. Sim, quase três décadas de lançamento e ainda se mantém um álbum extremamente atual e de audição ainda bem prazerosa, embora algumas letras sejam bem infantis. Mas, a gente entende essa infantilidade ao perceber que é um álbum bem zoado e que prima pela diversão.
A banda tinha lançado uma demo em 1993 que abriu as portas da gravadora Banguela Records (de propriedade da banda Titãs e de Carlos Eduardo Miranda). A demo tinha quatro músicas (Nêga Jurêma, Marújo, Palhas do Coqueiro e Sanidade) sendo que a música Sanidade nunca tinha estado em um disco da banda até o ano de 2001. E o que encontramos no disco? Punk Hard Core com influências de música nordestina (nas letras e em alguns ritmos) e letras em português com muitos palavrões. Não sei como seria um lançamento como esse nos dias de hoje, mas naquela época caiu no gosto da molecada.
Aqui na cidade havia um programa de rádio semanal dedicado ao rock e heavy metal apresentado pelo locutor Cezinha Crepaldi. Era nesse programa que ficávamos sabendo dos principais lançamentos do mundo do rock aqui no sertão. Quando o disco foi lançado o programa tocou quase todas as músicas. Lembro que acompanhei todas as músicas dando muita risada e já juntando as moedinhas para poder comprar ouvir em casa. Eu tinha 16 anos na época e já era fã de Ramones e outras bandas de punk rock na mesma linha. Quem não gostava muito desses palavrões todos eram os pais da molecada que se tornou fã da banda.
Mas, o Raimundos não é apenas uma banda que falava palavrões. Eles realmente tinham talento para esse tipo de música e algumas composições desse disco foram feitas para pular, bater cabeça, dar risada e, acima de tudo, se divertir. Um bom remédio para a tristeza e o baixo astral (opa, lembrei do filme da Xuxa). Melhores músicas do disco são Puteiro em João Pessoa (feita para tocar em rádio por conta da energia), Palhas do Coqueiro (quase pop), Nega Jurema (que rendeu um vídeo clipe), Cajueiro/Rio das Pedras (que não está disponível nos streamings), Cintura Fina (uma canção de amor) e Selim (que não dava para ouvir com os pais em casa).
Nega Jurema teve um vídeo clipe que poderia, tranquilamente, ganhar o prêmio de coisa mais tosca já feita no áudio visual em toda a história da música brasileira, mas que carrega toda a zoeira e diversão da banda. O disco ainda contou com vídeo clipes para Puteiro em João Pessoa, Palhas do Coqueiro, Rapante e Bê a Bá. O Raimundos, naquela época, era formado por Rodolfo Abrantes (vocal), Digão (guitarra e vocal), Canisso (baixo e vocal) e Fred (bateria).
Vamos colocar esse disco para rodar e bater um pouco de cabeça.