Existem alguns textos aqui no blog onde eu falo sobre filtros fotográficos. Filtros, que não são tão populares hoje em dia, eram artefatos acoplados à lente da câmera e cada um deles possuía um efeito específico na imagem. Hoje os filtros caíram em desuso, pois a maior parte dos efeitos é possível conseguir através do uso do Photoshop e outros programas de edição. Mas, dois filtros se mantém firmes: os filtros polarizadores e os filtros ND. Hoje vamos falar especificamente do teste que eu fiz do filtro ND 1000 da K&F Concept, uma das mais famosas fabricantes de filtros fotográficos. O filtro é construído em material resistente e possui ótimo acabamento. Ele vem bem embalado e possui um estojo de plástico para proteção que é muito resistente. Fácil de acoplar e com uma ótima nitidez. Fiquei muito satisfeito.
O filtro ND nada mais é do que um objeto que colocamos na frente de nossa lente para impedir a entrada de uma certa quantidade de luz. Isso mesmo, eu estou impedindo a entrada de luz. Cada filtro ND possui uma graduação. Então temos o filtro ND2, ND4 e ND8. E como isso é entendido? O filtro ND2 deixa passar por ele apenas metade da luz que está incidindo sobre a lente. Ou seja, você ganha 1 EV (não sabe o que é um EV? Então leia esse texto antes). O ND 4 deixa passar apenas 1/4 da luz, então você ganha 2 EVs, e com o ND8 apenas 1/8 da luz passa pela superfície, então você ganha 4 EVs. Então, seguindo essa lógica, o filtro ND 1000 que tenho em mãos agora é um filtro que barra a entrada de 10 EVs de luz, ou seja, apenas 1/1000 da luz total passa por ele. Mas, em qual situações que eu uso um filtro ND? Basicamente em duas situações. A primeira é quando você precisa trabalhar com grandes aberturas de diafragma durante o dia, para ter pouca profundidade de campo, mas a grande quantidade de luz do momento não permite isso sem uma ajuda do filtro ND. A segunda opção é quando você quer fazer uma longa exposição durante o dia, e a quantidade de luz do momento igualmente não permite isso.
O objetivo do filtro, para mim, é justamente as longas exposições, principalmente em fotografia de natureza. O efeito é bem interessante, ainda mais em fotografias onde temos água corrente como em rios, cachoeiras e o próprio mar. Como vou falar muito de obturador e longa exposição, então você também pode dar uma olhada nesse texto sobre o tema.
O modo de usar o filtro é bem simples. Você coloca a câmera em um tripé (longas exposições necessitam da câmera estabilizada), faz o enquadramento e o foco na cena e acerta a fotometria. Depois você precisa desligar o foco automático e acoplar o filtro à lente. Já que vamos fazer uma longa exposição e a câmera já está no tripé, então o ideal é trabalhar com o diafragma bem fechado. Na minha lente Canon EF 17-40 f/4 eu gosto de trabalhar com o diafragma em f/10 e ISO 100. Então faço o resto da fotometria apenas acertando a velocidade do obturador. Agora vem a parte da fotometria com o filtro. Levando em consideração a configuração que foi regulada no equipamento, você precisa calcular qual vai ser a velocidade do obturador com menos 10EVs de luz. Por exemplo, se na sua câmera a velocidade está em 1/125, então com o filtro vai ser possível fotografar com 8 segundos de tempo de exposição. Se o obturador estava em 1/30 segundos, então com o filtro o tempo de exposição vai ser de 30 segundos.
Você pode estar achando complicada as contas que devem ser feitas, mas não se preocupe. Existem aplicativos de celular que fazem essas contas para você. Um que eu recomendo por ser extremamente fácil de utilizar e ser gratuito é o LEE Stopper App.
Abaixo alguns exemplos de fotos feitas com o filtro.
Essa primeira foto foi executada assim que o filtro chegou. Essa é a fachada do Colégio Agrícola de Presidente Prudente. Era fim de tarde de um dia sem nuvens. Mesmo nessas condições era um dia com muita luz. Utilizei ISO 100 e abertura f/8 de diafragma. Consegui um tempo de obturador de 10 segundos nessa foto. É possível ver um leve borrão na copa das árvores que estavam balançando por conta do vento. Em uma longa exposição tudo o que está se mexendo fica borrado.
Essa segunda foto foi feita no balneário da Represa Laranja Doce no município de Martinópolis. Aqui eu quis testar os limites da coisa. Estava um dia bem nublado e fechei o diafragma da lente até f/22. Dessa forma consegui uma exposição de 120 segundos (dois minutos) na velocidade do obturador. Um efeito é o aspecto liso da água que vai borrando a foto com a longa exposição. Estava ventando muito e a ondulação da água causa o efeito de superfície lisa e das nuvens esfumaçadas. Um outro efeito é que as pessoas que estavam caminhando na areia desapareceram, pois não ficaram tempo suficiente paradas para serem registradas. No centro da foto temos um pássaro, um Quero Quero que não se moveu durante toda a exposição.
E, por fim, temos essa outra imagem também feita na Represa Laranja Doce do município de Martinópolis. Aqui trabalhei com um diafragma em f/22 e consegui um tempo de exposição em 120 segundos também. Esse tempo de exposição é possível utilizando o modo B (Bulb) das câmeras reflex ou mirrorless. Na parte inferior da foto haviam onda batendo na terra e na foto tudo ficou borrado e esfumaçado, um efeito muito bem vindo nesse tipo de fotografia.
Algumas considerações.
Assim como tudo no mundo da fotografia, existem equipamentos e acessórios de boa qualidade e que custam muito caro, e os equipamentos e acessórios mais baratos com baixa qualidade. Eu tenho um conjunto de filtros ND que comprei na Aliexpress e que paguei uma ninharia. Porém eles perdem muita nitidez na hora de captura da foto. Da para brincar e ver como a coisa funciona, mas não produzem fotos que você poderia vender depois, por exemplo (pelo menos na minha opinião). Esse filtro ND 1000 da K&F Concept eu paguei R$ 289,00 no Mercado Livre. Lembrando que existem diferentes tamanhos de filtros para diferentes tamanhos de lentes. Você deve verificar o tamanho do bocal da sua lente e comprar o filtro compatível. A maior parte das lentes tem escrito no corpo ou no bocal da lente o tamanho do filtro.
O segundo ponto é em relação à grandes tempo de exposição. As câmeras atuais conseguem fazer longas exposições de até 30 segundos. Acima desse tempo é necessário utilizar o modo B ou um intervalômetro. O modo B nas câmeras mais novas é muito fácil de utilizar, pois o acionamento é feito com um leve toque no visor LCD da câmera. Em equipamentos mais antigos é necessário apertar o botão do disparo e ficar com ele acionado durante toda a exposição. Mesmo com um tripé firme esse ato pode causar fotos tremidas. Então é recomendado utilizar um intervalômetro. O aparelho é um controle que pode ser conectado à câmera e ser programado para disparar a câmera no modo B por um determinado tempo ou disparar a câmera em intervalos pré-programados para a prática de time lapse. Existem diversos modelos e dos mais variados preços.
E por fim, duas observações. Tenha um bom tripé. E quando digo bom tripé não estou falando necessariamente de tripés muito caros. Um modelo que comprei recentemente e gostei muito é o Q999h que é um modelo licenciado para vários fabricantes. Ele é considerado um tripé de viagem ou trilha, então ele é pequeno, leve, fácil de carregar e, mesmo assim, a estabilidade do equipamento me impressionou. Você pode encontrar ele por valores entre R$ 299,00 e R$ 350,00 no Mercado Livre. Esse aqui foi o que eu comprei. A última indicação que dou é referente à limpeza do sensor. Quanto mais fechado estiver o diafragma, mais as sujeiras do sensor vão aparecer nas fotos. Faça testes antes e se os pontos pretos se mostrarem em grande quantidade eu indico uma limpeza do sensor antes de fazer alguma imagem mais séria. É possível limpar a imagem em um software de edição, mas dependendo da quantidade de pontos o trabalho será árduo.
Todas as fotos desse texto foram feitas com uma câmera de entrada da Canon, a T6i. Agora é procurar as cachoeiras da região para fazer as lindas fotos que o filtro vai me permitir. Você pode acompanhar minhas fotografias de natureza aqui nessa galeria do site ou em minha conta do flickr.
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