Dentro do Power Metal nacional existe um grande preconceito com bandas nacionais. Não por conta de algum tipo de bairrismo ou preferência pela música internacional, mas por conta da qualidade das produções dos discos. Infelizmente existe um grande amadorismo no mercado de heavy metal nacional. Discos mal gravados e, acima de tudo, sem uma produção competente. Esse amadorismo é um resultado da falta de dinheiro das bandas e também da falta de conhecimento. Bandas famosas como Angra, Shaman, ou a carreira solo do Edu Falaschi não passam por isso, pois possuem dinheiro para investir e podem contratar bons técnicos. Por isso que estou muito feliz ao ver um trabalho nacional com alta qualidade e isso aconteceu com o disco The Nameless Cry do Tuatha de Danann.
O Tuatha de Danann é uma banda de Minas Gerais que, por mais improvável que seja, investe em um celtic folk metal de temática europeia com muitos elfos, anões e todos os elementos do folclore do velho mundo. Tenho alguns discos deles na coleção, mas todos eles sofrem dos mesmos problemas que outras produções nacionais que citei no parágrafo acima. A gravação e produção poderiam ser bem melhores, pois as ideias das composições são bem legais. Mas, admito que não acompanhava o trabalho da banda de forma constante. No começo de dezembro de 2023 a banda colocou no mercado seu 8º disco de estúdio intitulado The Nameless Cry. Fiquei sabendo do lançamento através do Spotify que me sugeriu a audição do disco. Dei o play e não me arrependi.
The Nameless Cry é, simplesmente, o melhor lançamento de metal nacional dos últimos anos. O disco segue todas as características musicais que fizeram a carreira da banda, mas com uma qualidade de gravação impecável e, acima de tudo, uma produção belíssima. Fora as características técnicas do disco, o que chama a atenção para a bolachinha é a temática das letras das músicas. Em vez dos temas baseados no folclore europeu, temos músicas com cunho político. The Nameless, a primeira canção do disco, fala basicamente sobre alienação e a exploração da sociedade capitalista. O refrão principal da música nos fala:
“Ouça os gritos, os escravos sem nome gritam. Tentem ouvir os sussurros dos reis. Eles carregam os espólios que saquearam e marcham sobre aqueles que marcham prostrados“.
A letra é forte e a música é maravilhosa. Outra composição incrível é The Virgin’s Tower que fala sobre as mulheres que foram torturadas durante o regime militar no Brasil. Um disco realmente impactante. São 8 músicas que mantém uma alta qualidade ao longo de todo o disco. Na época do lançamento do álbum, Bruno Maia, um dos fundadores do grupo, fez a seguinte declaração.
“Posso dizer que este é o álbum da reinvenção do Tuatha de Danann. A banda não se repetiu e conseguiu manter muitos de seus aspectos e peculiaridades em todas as faixas. The Nameless Cry, como o próprio título sugere, traz uma atmosfera mais sóbria, amarga, reflexo de um período sombrio que vivemos com uma pandemia que matou milhões no mundo e que foi potencialmente mortal no Brasil. Temos grandes músicas no disco e participações muito especiais também”.
E falando em participações especiais, temos aqui nesse disco a presença de Hugo Mariutti, Daísa Munhoz, Fabricio Altino, Romulo Salobreña, Julie F. Gonçalves, Edson Guerra, Adriano Sarto e Nathan Viana. Falando da parte técnica, o próprio Bruno Maia fez a produção do disco em seu estúdio Braia Studios e a mixagem e masterização foram feitas por Thiago Okamura. A arte da capa foi criada pelo artista Paulo Coruja. No álbum a banda é composta por Bruno Maia (vocais, guitarra, violão, flautas, bandolim, banjo e bouzouki), Giovani Gomes (baixo e backing vocals), Edgard Britto (teclados), Raphael Wagner (guitarra) e Rafael Delfino (bateria).
O disco está disponível nas plataformas de streaming, no canal do Youtube da banda e você pode comprar o CD no site do Tuatha de Danann com um Slipcase muito bonito. A versão física do disco tem uma música bônus que não está disponível nos streamings.