Eu gosto do tema, principalmente por se tratar de algo histórico. A fotografia com filme fotográfico era nitidamente não pensada para representar pessoas com pele preta. Sim, isso já foi investigado em artigos e pesquisas. O padrão de calibração de revelação dos filmes era baseado em pessoas com pele branca, os famosos cartões Shirleys. Com o digital isso mudou, pois peles de tons negros passaram a fazer parte da paleta de cores da calibração de monitores e sensores fotográficos. O que resta ao fotógrafo é fazer um bom gerenciamento de cores no seu processo de revelação de imagens e tudo vai fica mais tranquilo.
Mais nem tudo são flores. Uma recente polêmica reacendeu algumas discussões e alguns já estão afirmando que as câmeras fotográficas são racistas. Uma foto compartilhada pelo cornerback da NFL Prince Amukamara foi o pivô da celeuma atual. Abaixo, Amukamara é mostrado entre os atuais e ex-quarterbacks do Green Bay Packers Aaron Rodgers e Brett Farve. Devido à exposição da câmera, Amukamara se mistura com o fundo subexposto da cena e é pouco visível. Vamos dar uma olhada na foto antes de continuar.
Tenho visto textos raivosos na internet alegando que as câmeras são racistas. Mas, como funciona a fotometria (medição de luz) de uma câmera? Ela analisa a quantidade de luz da cena inteira e tenta achar uma média que seria o centro de um histograma. Fora a média teremos zonas da foto com mais luz e zonas com menos luz. Porém, o fotômetro e o processo de fotometria tem limitações, principalmente em fotos com fundo preto e fotos com fundo branco. Também cabe lembrar que, mesmo com os modos inteligentes atuais, as câmeras geralmente só medem quantidade de luz. Elas não sabem o que estão registrando. Não sabem que possuem objetos com diferentes tonalidades ou se eles estão, por exemplo, em movimento. São nessas situações que o fotógrafo deve intervir no trabalho da câmera e fazer uma fotometria mais apurada.
A foto em questão foi feita, provavelmente, com um celular, em um local sem iluminação e a mancha na parte inferior da foto parece ser o dedo da pessoa que está fotografando. Independente de preconceitos, fotografar pessoas brancas e pretas na mesma foto já é um desafio, pois são peles que refletem luz de forma diferente. Isso não é racismo e sim uma característica do comportamento da luz (ou podemos dizer que a luz também é racista). Notamos que, de uma forma geral, a foto inteira esta subexposta. As câmeras de celulares tem evoluído muito com o tempo, mas ainda sofrem bastante em situações com pouca iluminação. Um pouquinho mais de luz na imagem teria resolvido tudo.
Atualmente várias empresas estão trabalhando para melhorar a representação de cores e tons de pele na fotografia. Hoje podemos ter certeza de que, com tudo sendo feito certinho pelo fotógrafo, pessoas brancas e pretas na mesma imagem podem ser reconhecidas e ter suas peles bem representadas. Mesmo pessoas pretas possuem diferentes tonalidades de pele que são complicadas de serem representadas na mesma foto (exemplo abaixo), sem falar em pessoas muito brancas que simplesmente ficam cinzas nas imagens. A humanidade possui uma pluralidade gigantesca, mas acho que estamos no caminho para que todos fiquem bem na foto.
Fonte: Petapixel