Pode não parecer, mas essa é uma discussão muito antiga dentro da fotografia. Alguns dizem que isso é um reflexo do racismo estrutural, outros que é uma característica do desenvolvimento da tecnologia. Eu já acho que é uma mistura das duas coisas, já que os detentores da tecnologia fotográfica olharam apenas para seu pequeno mundinho e não para todas as possíveis variações. Antes de falar da Adobe, apenas um pequeno resumo. Por décadas a representação de tons de pele na fotografia foi quase exclusivamente pensada para a pele branca. As máquinas de revelação de fotos eram calibradas com cartões de cores que possuiam apenas imagens de mulheres brancas. Esses cartões, produzidos pela Kodak, eram chamados de Shirleys. Isso resultou em décadas de fotos de pessoas negras com tons de pele muito escuros. Isso também levou a discrepâncias terríveis quando pessoas brancas e negras estavam na mesma foto. Você pode ver um pouco dessa história em detalhes nesse ótimo texto de Lorna Roth intitulado Questão de Pele e que foi publicado na revista Zoom.
Com o digital isso mudou muito. A paleta de cor de pele negra foi inserida no sistema, o que possibilitou a representação das infinitas variações de tons de peles mais escuras. Percebemos que não existe apenas uma tonalidade de pele negra e sim infindáveis possibilidades. Qualquer fotógrafo com um bom sistema de gerenciamento de cores e com calibrações precisas de monitor e câmera conseguem fazer um bom trabalho na questão do tratamento de tons de pele. Mas, isso ainda pode melhorar muito.
Com todas essas questões em pauta, a Adobe deu um importante passo para melhorar e questão da representação da cor da pele das pessoas em seus softwares de edição. Em parceria com os fotógrafos Dario Calmese , a renomada fotógrafa de documentários Laylah Amatullah Barrayn e a fotógrafa de estilo de vida Summer Murdock foi criado uma gama de produtos em forma de Predefinições para usuários da Adobe que trabalham com uma ampla variedade de tons de pele.
Sabemos que a Adobe dita os caminhos dos softwares de edição de imagem. Até os concorrentes fazem produtos muito parecidos com as interfaces gráficas da Adobe e, esse tipo de atitude pode determinar o caminho a ser seguido por todos os softwares de edição de imagem. Eu trabalho muito com fotografia de mulheres negras. Sempre tive a preocupação de ter uma representação fiel do tom de pele, o que é garantido por um rígido sistema de gerenciamento de cores e agora podemos contar também com a ajuda da Adobe nesse caminho.
Segundo Josh Haftel, Diretor de Gerenciamento de Produto para Fotografia da Adobe, a colaboração entre a empresa e os fotógrafos citados “agregará um valor tremendo aos clientes [Adobe] ao trabalhar com fotos de pessoas com pele melanizada”. Calmese concorda que a iniciativa da Adobe ajudará a equipar os criativos com ferramentas que “garantem que todos os tons do mundo sejam representados em fotos com a melhor iluminação possível e aprimoramentos disponíveis”.
As novas predefinições estão disponíveis para os usuários do Creative Cloud e divididos em três categorias de retrato classificadas por cor de pele – Deep Skin, Medium Skin e Light Skin. Eles podem ser acessados em aplicativos de fotografia da Adobe – ACR, Lightroom Classic, Lightroom, iOS, Android e Web.