Bacana perceber que todos os álbuns lançados na época em que comecei a gostar de rock e heavy metal estão completando mais de 30 anos agora em 2023. Na época eu tinha 15 anos de idade e, por conta da juventude, eu era extremamente impactado por alguns lançamentos. É o tal do entusiasmo da juventude. Alguns desses discos foram realmente muito importantes para a história da música, e outros simplesmente foram esquecidos pela grande mídia, mas o disco Get a Grip do Aerosmith é um caso a ser estudado por conta do sucesso que ele alcançou. O Aerosmith começou a sua trajetória no mundo da música em 1970. A banda lançou bons álbuns no começo da carreira, mas passou boa parte do final dos anos 70 e começo dos anos 80 em um limbo de ostracismo. Isso se deu por conta dos vários abusos em drogas e bebidas alcoólicas perpetrados pelos membros da banda. Isso se refletiu na qualidade das músicas que ficou bem abaixo da média. Porém, a banda conseguiu dar a volta em seus problemas e tudo começou a mudar com o álbum Permanent Vacation (1987) onde temos a baladinha Angel, e com o posterior disco Pump (1989) onde a banda voltou aos holofotes com as músicas Janie’s Got a Gun e Love in Elevator.
Get a Grip foi um disco planejado para ser sucesso nas rádios. Tanto que ele deveria ter sido lançado um ano antes, em 1992, mas os executivos da gravadora Geffen ouviram o disco e não gostaram das músicas apresentadas. Segundo eles faltava um apelo comercial para tocar nas rádios. Ou seja, faltava músicas mais caídas para o pop. Então a banda voltou para o estúdio e compôs novas músicas, com a participação de alguns convidados, para ter algo para tocar nas rádios e agradar a todos os executivos da gravadora. E essas músicas um pouco mais comerciais renderam um momento bem vergonhoso aqui na cidade na época da turnê oficial do disco, mas conto isso no final do texto.
Get a Grip foi um estrondoso sucesso comercial. Muitos críticos musicais não gostaram da levada mais pop do disco, mas o que importa no mercado fonográfico é se o consumidor vai gostar. E isso aconteceu de forma consistente. Até hoje esse é um dos discos mais famosos do Aerosmith e ele conseguiu uma coisa que poucos álbuns de rock pesado conseguem: ele conseguiu transitar entre fãs de todos os estilos musicais sendo que as baladinhas do disco tocaram em todas as rádios. O primeiro vídeo clipe do disco, e um dos mais bacanas de todos os tempos, foi para a música Livin’ on the Edge, onde a banda explora um pouco como foi viver os anos de loucura e abuso de substâncias legais e ilegais. O clipe tem a participação do ator Edward Furlong, que tinha acabado de participar do filme Exterminador do Futuro 2. De uma forma quase profética, o próprio ator também viveu no limite nos anos seguintes, o que veio a destruir sua carreira.
Do ponto de vista pop purpurina, o disco ainda teve clipes para as músicas Cryin, Crazy e Amazing, três baladas com refrão e instrumental fortes que fizeram a alegria dos adolescentes apaixonados. Um ponto interessante é que os três clipes tiveram a participação da atriz Alicia Silverstone. Embora o disco seja lembrado basicamente por essas músicas mais pop, não podemos esquecer a presença de algumas composições mais pesadas e extremamente agradáveis como Eat the Rich e a música título. Um destaque interessante fica por conta da capa onde temos um pircing colocado no úbere de uma vaca e logo acima o logotipo da banda como se tivesse sido marcado com ferro quente. Muitos apontam que essa é uma das piores capas de disco de rock de todos os tempos, mas eu acho que ficou bem interessante. Algumas entidades de protetores de animais protestaram contra a imagem, mas a banda afirma que tudo foi montado com arte digital e que nenhum animal sofreu violência.
Em 1994, um ano após o lançamento do disco, o Aerosmith fez um show no Brasil durante o Hollywood Rock. Foi um evento muito importante, pois essa foi a primeira apresentação da banda em terras tupiniquins. Aqui na cidade, na época, havia um programa de rock na rádio educativa e, para comemorar a realização do show, o programa fez um especial da banda. Porém, o radialista se recusou a tocar as músicas do novo disco, pois para ele eram muito comerciais e se todo mundo estava gostando então não era coisa para os verdadeiros fãs da banda. Mais um exemplo de pessoas que não entendem que música é negócio e tocar na rádio era exatamente o objetivo da banda e da gravadora. felizmente eu não sofro desses preconceitos e o que quero mesmo é curtir esse ótimo disco e lembrar que ele fez parte da minha formação musical.
Get a Grip foi um marco dentro do rock e importante para a galera que tem minha idade. As músicas eram onipresentes nas rádios e os vídeo clipes tocaram exaustivamente em todos os programas especializados. Composições poderosas e que foram feitas para atingir um êxito comercial. E não tem vergonha nisso, pois música é entretenimento e também negócio. O que importa é todo mundo se divertir no processo. E você que está lendo esse texto, qual sua música preferida desse disco?