Recentemente, o canal Collectors no Youtube fez uma enquete em suas redes sociais sobre quais seriam os melhores álbuns do Angra. O resultado foi bem bacana e chegou bem perto da minha opinião a respeito da banda. Mas, acima de tudo, o vídeo me deu vontade de ouvir novamente a discografia da banda. Os dois primeiros discos do grupo brasileiro não saem do meu aparelho de som, estou sempre ouvindo, mas os outros 7 discos (além de singles e os ao vivos) eu não ouço com tanta frequência. E foi nesse momento de redescobrir essa discografia que me relembrei de uma pequena obra de arte chamada Temple of Shadows.
O disco é conceitual e foi lançado em 2004. Ele conta a história de um cruzado do século XI conhecido como The Shadow Hunter que, em um determinado momento, começa a questionar as ordens e intenções da Igreja Católica. O disco foi o segundo lançado com Eduardo Falaschi nos vocais, Felipe Andreoli no baixo e Aquiles Priester na bateria. Fecham a banda os dois membros da formação original, os guitarristas Rafael Bittencourt e Kiko Loureiro. O disco mostra uma banda muito mais entrosada, mais afiada e executando um power metal com uma pegada mais européia, mas ainda mantendo aquelas pitadas de música brasileira que fizeram a fama do grupo.
Algumas músicas são destaques absolutos em todo o trabalho. Não podemos esquecer a poderosa música de abertura Spread Your Fire, com a participação da vocalista Sabine Edelsbacher da banda Edenbridge em vocais operísticos. Logo depois temos a melodiosa Angels and Demons com seu refrão grudento e uma prova de que Edu Falaschi tinha se tornado um estupendo cantor (coisa que ele não era na época da banda Symbols). Waiting Silence fecha a trinca de músicas estupendas que abrem o álbum mostrando um contrabaixo bem encaixado, uma bateria cadenciada e mais uma bela apresentação vocal. Outros destaques são The Temple of Hate (com a participação de Kai Hansen do Gamma Ray), No Pain for the Dead, e Winds of Destination com a participação Hansi Kürsch do Blind Guardian.
Esse disco também teve uma pequena polêmica na época de seu lançamento. A música Late Redemption, com uma pegada bem acústica, teve a participação de Milton Nascimento, um dos grandes cantores da MPB brasileira. Na época, a galera preconceituosa bateu pesado por ser uma participação esquisita em um disco de metal. Puro suco da intolerância. A música é belíssima e Milton Nascimento é uma das mais belas vozes da música brasileira. Quem reclamou (de certo, a mesma galera que desceu a lenha no Roots do Sepultura por usar elementos da música brasileira) não era fã do Angra, que tem uma tradição de uso da música brasileira em seu heavy metal.
Temple of Shadows é um dos mais belos álbuns do metal brasileiro e, dentro da discografia do Angra, perde apenas para Holy Land em qualidade. Vale a pena ter em sua coleção. O álbum pode ser ouvido também no Spotify.