O tal do NFT foi uma praga na internet. Quando surgiu pouca gente entendeu e muita gente gastou os tubos para comprar pensando, claro, em uma futura valorização. Um token não fungível ( NFT ) é um identificador digital exclusivo que não pode ser copiado, substituído ou subdividido, registrado em um blockchain e usado para certificar a autenticidade e a propriedade. Quando começaram a divulgar a nova tecnologia, pensei que seria um marcador, um certificado de autenticidade para uma obra de arte digital. Uma mão na roda para fotografia. Assim como as cópias em papel, você produziria um número limitado de uma imagem, e venderia como NFT. Assim o comprador sabe que é proprietário de uma imagem original do artista e não de uma mera cópia. Mas, a coisa degringolou e tudo virou NFT e, pior, coisas que se encontram aos milhares pela internet eram transformadas em NFT. Então você pagava caro por uma coisa que todo mundo tinha de graça.
O mercado NFT desmoronou. Parte desse desmoronamento se deu por conta do intenso comércio de NFTs falsificados, muitos foram roubados e contas hackeadas, sem falar no fortes indícios de lavagem de dinheiro ligados à nova tecnologia. Desde o começo de 2022 o mercado de NFT encolheu 97%. Porém, alguns ainda investem. Vejo muitos sites voltados para negócios de fotografia no Brasil ainda dizendo que essa tecnologia é o futuro para o mercado de fotografia, principalmente o fine art. Tanto Facebook quanto Instagram estão chegando agora nesse mercado, quando tudo parece perdido, ao implementarem ferramentas para que os usuários consigam vender NFT de suas postagens. Se vai vingar e dar certo ninguém sabe.
Uma outra notícia que trouxe um pouco de visibilidade sobre o NFT foi o caso do artista Damien Hirst. Ele conseguiu vender um primeiro lote de suas obras de arte transformadas em NFT. Para concretizar essa transição entre as obras de arte físicas e as versões digitais, o artista fez uma live no instagram onde ele queimou as suas obras, fazendo com que os NFTs sejam a única prova de que um dia elas existiram.
Essa primeira coleção de Hirst se chamava The Currency e foi lançada no ano passado. Ela continha 10 mil peças e o comprador poderia escolher entre levar a obra de arte em formato NFT ou a peça original em formato físico. Segundo a Newport Street Gallery de Londres, local onde aconteceu a venda das obras de arte, a preferência entre os compradores foi de 50% para cada formato. O valor total da venda das obras atingiu US$ 11 milhões. Então é correto afirmar que metade disso virou cinzas.
Segundo o artista “Muitas pessoas pensam que estou queimando milhões de dólares em arte, mas não estou, estou completando a transformação dessas obras físicas em NFTs queimando as versões físicas. O valor da arte digital ou física, o que é difícil de definir na melhor das hipóteses não será perdido, será transferido para o NFT assim que forem queimados”.
Sinceramente, eu acho um absurdo, embora o pensamento do artista tenha lógica, já que o NFT vendido é uma cópia única (espero) da obra de arte. Mas, pensando do meu lado, a maior parte do meu acervo de fotografias está em formato digital, gravados em HDs e em armazenamentos na nuvem. Em vários aspectos são cópias do arquivo original, mas esteticamente não perdem seu valor. A qualquer momento posso transformar elas em quadros (o que acontece com frequência) e apreciar uma foto impressa é infinitamente mais agradável do que ver ela em um monitor de computador. Sem falar que nas poucas vezes que perdi um arquivo o fato me causou grande dor psicológica.
Talvez, a visão de Hirst mude com o tempo, ou talvez esse tipo de loucura apareça mais em nossa sociedade. Mas, prefiro uma obra de arte que possa ser apreciada no mundo físico do que depender de máquinas e energia elétrica para poder ver aquilo que produzi ou comprei.
Vejam abaixo o vídeo do artista queimando suas obras. E vocês? O que acham desse movimento?