Semana passada, depois de muito tempo, fiz uma sessão de fotografia de produtos. O objetivo era registrar frascos de aromatizantes para o catálogo do site do contratante. Trabalhar com fotografia na publicidade é uma coisa bem diferente do que os outros ramos da fotografia. A liberdade do fotógrafo é bem limitada. Geralmente o dono do produto, o responsável pela montagem da propaganda e até o webdesigner da página já definiram como as fotos devem ser. O que resta ao fotógrafo é tentar colocar em prática o que eles já decidiram. Ou seja, enquadramento e a iluminação necessária. Outro ponto é que toda essa galera costuma acompanhar a sessão de fotos fazendo os ajustes na peça publicitária para ficar o mais perto do que foi desenhado. Então, a capacidade criativa do fotógrafo fica bem limitada, mas nada impede de colocarmos nossa assinatura no esquema de iluminação.
Por isso acho estranha a postura da Balenciaga a respeito dessa treta que rodou a inernet na semana passada. A marca, que produz produtos sofisticados e já teve Kim Kardashian e Nicole Kidman como garotas propaganda, contrataram o renomado fotógrafo Gabriele Galimberti para registrar a campanha de primavera/verão da empresa onde seriam apresentadas sacolas de ursos de pelúcia. O problema é que os ursinhos de pelúcia estavam enfeitados com cintos de couro bem ao estilo BDSM. As fotos não pegaram bem diante do público que acusou a marca de sexualizar as crianças e apresentar um conteúdo nojento.
A empresa retirou a campanha do ar e veio a público pedir desculpas a todas as pessoas que ficaram ofendidas. Porém, no comunicado, a empresa deu a entender que a culpa desses adereços nas fotos era do fotógrafo e que tomaria medidas legais contra o ocorrido. O comunicado oficial diz: “Nossas sacolas de pelúcia não deveriam ter sido apresentadas com crianças nesta campanha. Removemos imediatamente a campanha de todas as plataformas. Levamos esse assunto muito a sério e estamos tomando medidas legais contra as partes responsáveis por criar o conjunto e incluir itens não aprovados para nossa sessão de fotos da campanha Primavera 23”
Agora, Gabriele veio a público em sua conta do instagram e ressaltou que foi contratado para iluminar e fotografar a cena e que havia uma equipe de marketing envolvida que tomou todas as decisões e montou todos os adereços, sendo que a liberdade que ele teve foi muito pequena. Na realidade, acredito nele, pois depois que a sessão de fotos foi realizada as mesmas ainda passaram pelo processo de finalização artística e passou pela aprovação final da equipe de marketing e por mais um monte de gente dentro da empresa. Então é muito estranho dizer que a culpa por esses pequenos detalhes é do fotógrafo.
Segundo Gabriele: “Após as centenas de e-mails e mensagens de ódio que recebi como resultado das fotos que tirei para a campanha da Balenciaga, sinto-me compelido a fazer esta declaração. Não estou em condições de comentar as escolhas da Balenciaga, mas devo ressaltar que não tive direito de forma alguma a escolher os produtos, nem os modelos, nem a combinação dos mesmos. Como fotógrafo, fui solicitado apenas e exclusivamente para iluminar a cena e tirar as fotos de acordo com meu estilo de assinatura. Como de praxe em uma sessão comercial, a direção da campanha e a escolha dos objetos expostos não estão nas mãos do fotógrafo.”
Gabriele é um fotógrafo conhecido e que já publicou seu trabalho em revistas como National Geographic , The Sunday Times e Le Monde. A Balenciaga contratou o fotógrafo para fazer a sessão fotográfica dentro da estética de seu projeto fotográfico Toy Stories onde o fotógrafo viajou o mundo fotografando crianças em seus quartos junto com seus bens mais preciosos: seus brinquedos. Ele também possui uma série de fotos chamada The Ameriguns onde ele mostra americanos e suas coleções de armas. Bem bacana o trabalho dele e vocês podem conferir visitando o seu site.
Fonte: Petapixel