Quando os discos de CD apareceram aqui no interior de São Paulo eu deveria ter uns 12 anos de idade. Só quem tinha muita grana tinha capacidade de comprar um aparelho reprodutor de CD para ter em casa. Eu entrava nas lojas de discos e via esses pequenos disquinhos ainda trancados em vitrines e com valor muito elevado. Mas, com o tempo eles dominaram o mercado, todo mundo se desfez dos discos de vinil, e a indústria das bolachonas quase desapareceu no Brasil. Mas, nos últimos 10 anos algo aconteceu. Os CDs também perderam o pódio da popularidade substituídos pelo streaming e o disco de vinil voltou a ser popular entre um grupo seleto de pessoas que voltaram a se divertir com o ritual de colocar a agulha no vinil e sentir o som ecoando pelas caixas.
Mas, no fundo disso tudo, existe uma disputa estranha. Quem gosta de vinil diz que o som é melhor e quem gosta de mp3 diz que colecionadores de mídia física são dinossauros. Bem, o que digo é que tudo é música e, se você aprecia o conteúdo, não importa a maneira que você está ouvindo. Mas, rituais são importantes para muitas pessoas.
Respondendo a questão, sobre qual plataforma de som é melhor, e sem rodeios, digo que o CD possui melhor qualidade de som do que um disco de vinil, e ambos possuem melhor qualidade de som do que um arquivo mp3. Porém, essa é uma discussão idiota. Vejo muita gente, que se diz audiófilo, que gasta fortunas em aparelhagens de som e se gabam de serem amantes da música, mas no final não conseguem nem identificar as mínimas nuances das músicas que estão ouvindo. Música é vida, música é alegria e deve ser apreciada com o equipamento que melhor lhe cabe no bolso. Pode ser um conjunto espetacular de amplificador e caixas de som, ou um simples fone de ouvido.
O que me deixa triste com o streaming é que a maior parte das pessoas está ouvindo música enquanto estão fazendo outras coisas. Não há um momento para realmente ouvir a música, sentir os instrumentos e se emocionar com a mensagem do artista. Nesse ponto, quem ainda coleciona mídia física tem uma certa vantagem. Você tem que ligar seus aparelhos, colocar o CD (ou vinil, ou fita cassete), sentar e prestar atenção na música. Isso meus amigos, é o que me faz ainda apostar nesse tipo de reprodução de áudio, pois a música é parte importante em minha vida.
Quando eu era moleque, discos eram muito caros (ainda são), mas o único acesso a música gratuita era o rádio, e não tínhamos controle sobre o que era reproduzido. Então, quando um membro do grupo de amigos comprava um disco novo, o ritual era convidar todo mundo para se reunir e ouvir esse disco. Como alguns levavam fitas K7 para gravar, então esse disco era ouvido várias vezes seguidas. Era um ritual de socialização da juventude. Disso sinto falta.
Infelizmente não tenho mais os primeiros discos de vinil que comprei. Eram algumas coletâneas, discos do Iron Maiden, Sepultura, Megadeth e Angra. Com a chegada do CD vendi tudo para investir na nova mídia. Desde 1992 tenho todos os CDs que comprei e, desde uns dois anos atrás, comecei novamente a comprar discos de vinil nos sebos e através do mercado livre. Gosto de colocar as bolachas no toca discos e sentir o atrito da agulha. Tudo é um ritual.
E o que me faz ainda investir em mídia física? Muitos me fazem essa pergunta. Hoje, junto ao set de aparelhos na sala, existe um notebook ligado constantemente ao receiver. Então, também me utilizo muito do streaming, principalmente do Spotify. Também muita coisa do Youtube, já que grandes artistas tem liberado shows completos em seus canais com imagem e áudio de qualidade. Mas, ainda me rendo à qualidade insuperável da mídia física. Enquanto elas forem lançadas, serei um consumidor de suas características. Outra coisa que gosto de listar como vantagem, é que nem sempre discos ficam disponíveis eternamente no streaming. Um exemplo é a discografia do Trans-Siberian Orchestra que simplesmente desapareceu do Spotify por um longo tempo e só retornou agora. Ou seja, os meus CDs continuam na estante e posso ouvir quando eu quiser, mas no streaming só posso ouvir enquanto o contrato com as gravadoras durar.
De uma forma ou de outra, nos adaptamos às novas formas de ouvir música, mas o que importa é a música e não a mídia onde ela está armazenada.