Eu sou um colecionador de Cds. Quem me acompanha nas redes sociais e aqui no blog sabe disso. Eu fui criado em uma família que gostava muito de música. Então essa parte é muito importante em minha vida, assim como a fotografia. Quando tinha 13 anos juntei a grana de um trabalho na feira (sim, naquela época podia trabalhar e passei muitos fins de semana vendendo verduras) fui até uma loja de discos e comprei meu primeiro LP, um vinil com coletânea de algumas bandas que estava descobrindo naquele momento. Que fique registrado que discos nunca foram baratos e a gente tinha que ralar muito para poder comprar.
Com o tempo os discos de vinil foram esquecidos e substituídos pelos CDs. O primeiro que comprei foi em 1995 e nem tinha aparelho para ouvir. Foi só uns meses depois que comprei um CD player. Por todo esse tempo venho colecionando CDs e curtindo a música e a qualidade que eles proporcionam. Com o tempo, aprendi que a qualidade da música está atrelada à qualidade da gravação do CD, da qualidade do reprodutor do disco e também das caixas de som. Hoje estou plenamente satisfeito com a minha aparelhagem e minha pequena coleção de uns 500 discos. Acima de tudo, o importante é o ritual de sentar no sofá e realmente ouvir música com calma e prestando atenção. Mas, isso pode acabar.
Um relatório da IFPI, instituição que emite anualmente dados sobre o mercado musical mundial, mostrou uma situação muito triste no Brasil. Segundo eles, 72,4% do consumo de música no Brasil é digital (streaming e downloads pagos) e apenas 1,4% é mídia física. Eu entendo isso. Streaming é barato e muito cômodo. E, mesmo que não tenha a qualidade sonora de um CD, a maior parte das pessoas ouve no celular com fones de ouvidos ou pequenas caixas de som amplificadas. Então, a questão da qualidade sonora perfeita é perdida. Eu tenho um reprodutor digital acoplado ao aparelho de som, e mesmo que você configure o Spotify para reproduzir os arquivos em máxima qualidade ele perde feio para um CD.
O resultado disso é que muitos discos importantes de grandes artistas mundiais não estão sendo mais lançados no Brasil, pois não compensa o investimento. O último disco de Ozzy Osbourne não foi e não será lançado no Brasil. Mas, não é culpa das gravadoras, pois o público que não colabora. Dados de algumas gravadoras pequenas brasileiras mostram que as tiragens de discos de grandes bandas é minúscula. O último disco do Deep Purple, uma das grandes bandas de rock do mundo, teve tiragem de 500 cópias no Brasil. Qualquer grupo de colecionador no facebook tem mais de 5 mil membros, mas eles não compram os discos. Nesse ponto de vista os colecionadores de filmes (Blu Ray e DVD) são mais organizados e eles conseguiram educar a indústria a lançar filmes em formatos especiais, mas que esgotam rapidamente quando são colocados a venda.
Quem coleciona CDs ainda vai ter muito o que comprar no Brasil nos próximos anos. Existe uma quantidade grande de produto usado a venda no Mercado Livre e em sebos (mas, com preço cada vez mais elevado), algumas pequenas gravadoras (principalmente de rock) que ainda abastecem o mercado e sempre temos a opção do importado. Mas, com o tempo vai ficar cada vez mais escasso. Quem tem a sua coleção e cuida bem, vai ter música por muitas décadas, mas uma geração inteira vai ser criada apenas escutando música, quando ideal seria ouvir música. Talvez, como afirmou o Ricardo Seelig, do site Collectors, daqui uns 15 anos o CD volte com força, assim como aconteceu com o vinil, mas não sou muito otimista em relação a isso.