Olha uma história da minha vida na fotografia. Eu sempre conto para meus alunos que passei por algumas crises dentro da fotografia. Na primeira delas, muitos anos atrás, comecei a questionar a qualidade de meu trabalho. Me questionava como as pessoas iriam classificar minhas fotos depois que eu morresse, por exemplo. Foi uma grande neura. O que me salvou na época foi conhecer a prática do ensaio fotográfico e da fotografia autoral. Nesse ponto agradeço muito ao professor Iatã Cannabrava, o primeiro que me mostrou como trabalhar com isso.
Ensaio fotográfico é um conjunto de fotos que possuem unidade formal e unidade temática. Ou seja, você conta uma história (unidade temática) utilizando fotografias que possuem a mesma estética (unidade formal). A unidade formal é decidida pelo fotógrafo na hora de montar o seu projeto. Por exemplo, você pode escolher que todas as fotos serão em preto e branco com alto contraste. Ou pode decidir que todas as imagens serão fotografadas com a mesma lente e mesma abertura. Ou que a todas as fotos do ensaio terão um formato quadrado, estilo fotos de polaroid. Então, não existe limites para o que você determinar como unidade formal.
O tema também é de livre escolha do fotógrafo. Pode ser algo de grande importância para a sociedade, pode ser algo de importância apenas para um público específico, pode ser algo abstrato (onde cada observador vai dar sua interpretação) ou algo importante apenas para o fotógrafo. A beleza de todo o processo é que existem inúmeras possibilidades.
Esse projeto, que chamei de Estradas de Ferro, nasceu para mim de forma muito natural. Quando estudava a graduação na Unesp de Presidente Prudente, observamos a importância da Estrada de Ferro Alta Sorocabana para o desenvolvimento econômico de toda a região do Pontal do Paranapanema e que agora se encontra quase totalmente abandonada. Todas as estações dessa importante estrada de ferro se encontram abandonadas ou estão sendo utilizadas para outros fins. Um local que era o mais importante da cidade, pois era responsável pelo transporte de pessoas e mercadorias, hoje se encontra marginalizado. Sempre achei muito interessante essa flutuação temporal nesses locais.
Mas, o projeto nasceu meio que por acidente. Eu sempre fotografei na estação de Presidente Prudente. Mas comecei a rodar a região desde 2008 ministrando cursos de fotografia pela Oficina Cultural de São Paulo. E quando a cidade tinha uma estação de trem eu levava os alunos para fotografar lá nas aulas práticas. Comecei a perceber que as estações, mesmo em cidades diferente, possuíam o mesmo grau de abandono e a mesma estética marginalizada (salvo em alguns locais, como no município de Ibirarema onde a estação é praticamente um ponto turístico da cidade). Então, comecei a registrar as estações e sua arquitetura.
O projeto, montado e estruturado, é formado por fotos em preto e branco e todas registradas com uma lente 50mm (uma distância focal que adoro). Quando eu faço exposição desse projeto, eu costumo não colocar indicação do local da foto, justamente por considerar que todas as estações possuem muitos pontos em comum que fazem parte dessa grande história. Abaixo mostro para vocês 12 fotos desse projeto que já me acompanha há mais de 10 anos e acho que nunca vai acabar.
Quer entrar no mundo maravilho dos ensaios fotográficos? Então eu indico o meu minicurso on-line de Ensaio Fotográfico, Fotografia Autoral e Fine Art. Está disponível no Eduzz por apenas R$ 29,90. Vale a pena.
Sensacional. Parabéns pelo projeto!