O tema não é novo, mas quando aparece na mídia especializada sempre causa espanto em algumas pessoas. Eu digo em meus cursos que para existir fotografia é necessário ter luz. Você não precisa, necessariamente, ver essa luz, mas ela tem que existir. Digo isso por conta da existência de fotógrafos cegos ao redor do mundo que produzem trabalhos artísticos de grande qualidade e relevância dentro da fotografia.
Muitos anos atrás, em 2008 se não me falha a memória, eu tive a oportunidade de fazer um curso de fotografia com uma fotógrafa cega. Ela e o marido, também cego, moravam sozinhos em uma chácara e ela usava a fotografia para registrar a natureza nesse local. Muitos podem perguntar como um cego pode fotografar, já que eles não possuem a visão. Nesse caso eles utilizam outros sentidos para fotografar, como o tato, a audição e o olfato. Nesse curso que eu fiz, uma das metodologias foi construída para sentirmos a maneira que ela trabalhava. Então todos foram vendados e convidados a utilizar os outros sentidos para fotografar. Uma experiência muito gratificante e verdadeiramente enriquecedora. Utilizei essa metodologia em vários cursos que ministrei depois.
A notícia do momento envolve uma moradora de Alexandria, no Egito, chamada Esaraa Ismail. Ela é formada em Língua e Literatura Árabe e decidiu percorrer o caminho do Jornalismo. Ao obter informações sobre o curso descobriu que deveria produzir um trabalho fotográfico como forma de teste de admissão. Essa era uma barreira que ela pensava ser instransponível, mas ela teve ajuda do professor Khalid Farid que possui uma iniciativa de ensino de fotografia voltada para pessoas com problemas de visão. Em vez de trabalhar com celular, Esaraa foi levada a trabalhar direto com uma câmera fotográfica e ela passa os dias de aprendizado registrando os moradores e donos de negócio de Alexandria.
Para compor suas fotos, ela confia no toque para sentir as dimensões de seus objetos e usa a voz para determinar a localização das pessoas na frente de sua câmera. Ela pede que seus assuntos falem continuamente para que ela possa usar isso para guiá-la enquanto ela dá um passo para trás para compor a imagem.
“É muito difícil, mas gostei de passar pela experiência e lidar com as pessoas, de saber mais, de me relacionar e de sentir que fiz algo útil que adoro”, diz ela.
O tema não é novo, como já falei, e em 2016 foi publicado pela Princeton Architectural Press o livro The Blind Photographers com o trabalho de 50 fotógrafos cegos com relevante trabalho artístico. São fotos espetaculares, de causar muita inveja para fotógrafos que enxergam perfeitamente e não conseguem chegar perto do nível de excelência artística.
Fonte: Petapixel
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