Quando começo a ministrar um curso de fotografia, sempre pergunto para a classe o que eles mais gostam de fotografar, qual o seu objeto fotográfico preferido. Nessa fase do curso eu tenho muitas respostas diferentes, mas o tema de fotografia de paisagem sempre aparece várias vezes. Sim, as pessoas gostam de fotografar paisagens e todo mundo já deve ter feito pelo menos uma foto dessas em uma viagem. Mas, conheço muita gente que fica frustrada por não conseguir fazer uma foto bacana do ponto de vista da captura da luminosidade. Isso se deve pelo fato da maioria das fotos de paisagem serem cenas de grande amplitude tonal.
Antes de continuar nesse texto, você deve dar uma olhada nesse artigo sobre fotometria básica.
Primeiro, vamos fazer uma diferenciação. Quando olhamos uma paisagem, o nosso olho e o cérebro que interpreta essa imagem, tem uma grande capacidade de adaptação e balanceamento de zonas de iluminação. Ou seja, conseguimos equilibrar de maneira interessante zonas de grande iluminação e zonas de pouca iluminação no mesmo quadro. Uma câmera fotográfica já não consegue fazer isso. Ou, podemos pensar de maneira mais inquietante e apontar que a câmera consegue ver a realidade da cena e nosso cérebro apenas faz uma interpretação da realidade. Se a essa segunda opção for a mais correta, então cada pessoa interpreta uma cena de uma maneira, o que faria a noção de realidade uma coisa muito maleável.
Mas, voltando à nossa câmera, existe um aparelho dentro da câmera chamado fotômetro. Como o nome já entrega, ele serve para medir a quantidade de luz que está entrando pela lente e atingindo o sensor da câmera (lembrando que isso funciona para qualquer câmera, seja um celular ou uma câmera mirrorless). O fotômetro está regulado para procurar uma média que chamamos de cinza 18%. Imagina que a escala de luz parte do zero, que seria o preto absoluto, e chega até o 100 que seria o branco absoluto. Tanto o zero quanto o 100 são os extremos onde não existe mais informação nenhuma, apenas o preto absoluto em uma ponta e o branco absoluto em outra ponta.
Quando apontamos uma câmera para uma cena e ela indica as configurações que devemos aplicar, o fotômetro está tentando encontrar essa média, que chamamos de cinza médio. Então sempre dizemos que a câmera tenta transformar tudo em cinza, pois ela não sabe o que você está fotografando. O fotômetro trabalha apenas com quantidade de luz e médias. O problema é que a fotografia de paisagem tem uma grande amplitude tonal.
Existem dois conceitos que se misturam nesse momento, mas eles não são iguais. Temos a amplitude tonal de uma cena e também a latitude de exposição de um sensor. Todo sensor fotográfico tem uma latitude de exposição. É a quantidade de EVs (Valor de exposição) ou pontos de luz, em que uma fotometria errada ainda pode manter os detalhes da cena. Ou, explicando de forma mais prática, toda foto tem um ponto onde a quantidade de luz vai ser a mínima e um ponto onde a quantidade de luz vai ser a máxima. A maior parte dos sensores fotográficos possuem latitude de exposição de pelo menos 3EVs. Em uma foto de paisagem, o céu costuma ser o ponto com mais luz e, no chão, costuma ser o ponto com menos luz. Ao fazer a fotometria dessa cena completa você tem a certeza que tudo que estiver com 3 EVs a mais de luz ou 3EVs a menos de luz, mesmo não aparecendo na imagem, ainda possuem os seus detalhes capturados pelo sensor (você vai ver como isso funciona no vídeo abaixo). Já a amplitude tonal de uma cena é realmente a diferença de luz entre o ponto mais escuro e o mais iluminado de uma mesma foto. Se a diferença estiver dentro da latitude de exposição do sensor, então todos os detalhes podem ser recuperados em um pós-processamento da imagem. Porém, na hora de fotografar você não sabe qual vai ser o comportamento do seu sensor na amplitude tonal de sua cena. Então é melhor pensar e planejar.
Veja a imagem abaixo
Essa é Morada de Deus, uma igreja católica muito famosa aqui na cidade. Gosto muito de fotografar por lá, principalmente por conta da arquitetura diferenciada do local. Essa foto foi feita com uma lente 10mm em um dia bem nublado. A fotometria estava horrível e com zonas de muita luz e zonas de muita sombra. Se você tem dúvidas sobre como seu sensor vai se comportar em uma foto com fotometria difícil, você não deve se deixar levar pela câmera que vai decidir um ponto médio através da fotometria. Você deve decidir qual vai ser o seu ponto médio. Eu tenho na imagem o céu, o gramado e a igreja. Na hora de fotografar eu devo decidir o que é mais importante para mim na paisagem e decidir que esse ponto será o meu ponto médio. Para isso, eu posso mudar o modo de fotometria da minha câmera para o modo pontual. Fazendo isso, a câmera vai medir a luz apenas no centro da lente e você deve colocar esse ponto central no ponto que você quer que seja o ponto médio. A partir disso, tudo o que tiver mais luz que aquele ponto ou menos luz que aquele ponto, pode ser recuperado no pós-processamento da imagem.
Vamos dar uma olhada nesses conceitos na hora da edição?
Algumas pessoas podem afirmar que celulares conseguem lidar melhor com esse tipo de imagem do que uma câmera fotográfica. A resposta é sim, mas também é não. Os celulares trabalham com modos totalmente automáticos de fotografia. E uma característica que os celulares possuem melhor do que as câmeras fotográficas é o processamento interno. Os censores e lentes são ruins, mas eles possuem algoritmos de processamento de imagem que são muito bons. Então, todo esse processo que fiz no vídeo com a imagem o celular executa em seu interior de forma automática. Outra coisa que acontece no celular é que a maioria deles atualmente está trabalhando com imagens em HDR que aumenta em muito a amplitude tonal da cena. Porém, uma cena fotografada com uma câmera fotográfica, em raw e com o devido processamento no computador, ainda vai apresentar uma qualidade muito superior, principalmente se o objetivo da imagem for ser impressa em um grande formato, como um quadro, por exemplo.
Assim como citado no vídeo, você pode saber mais sobre filtros ND clicando nesse link.