Essa história me faz lembrar do tempo em que eu fotografava eventos sociais. Esse relato apareceu no Reddit e, posteriormente, foi compartilhado em vários sites e blogs de fotografia nos Estados Unidos e Europa. A usuária do Reddit chamada u/throwawayweddingpic2 relatou que foi convidada para o casamento do irmão e que levou seu filho de 18 meses. Era a única criança presente no evento, pois era um casamento sem crianças (prática cada vez mais comum no mundo dos eventos. Você convida os pais, mas avisa que não será possível levar crianças, pois não existe ambiente exclusivo para elas). Porém, foi aberta uma exceção para o bebê, pois a cunhada da mãe queria muito a presença da criança. Em um certo momento a mãe da criança percebeu que o fotógrafo estava fazendo algumas fotos em close do bebê, o que a deixou desconfortável. Ela foi até o fotógrafo e pediu que as fotos da criança não fossem utilizadas em publicações nas redes sociais e nem em divulgação do trabalho do fotógrafo. E foi ai que a confusão começou.
Antes de qualquer comentário, eu achei o pedido da mãe extremamente racional. Segundo ela, a criança não possuía exposição nenhuma nas redes sociais e ela gostaria que continuasse assim. O fotógrafo não reagiu muito bem a esse pedido e retrucou dizendo que a noiva e o pai dela haviam assinado um contrato onde era explícito o direito dele de utilizar qualquer foto do casamento em suas redes sociais ou site para divulgação de seu trabalho. A mãe retrucou que a criança tinha apenas 18 meses e ela, como responsável, não autorizava essa atitude, independente de contratos assinados pelos donos da festa. Porém, segundo ela, o fotógrafo foi irredutível e ela tomou uma atitude drástica. Toda vez que o fotógrafo apontava a câmera para o lado do filho dela ela ficava entre ele e o fotógrafo, de costas para a câmera. Briga de criança. Porém, quando o irmão dela recebeu as fotos do casamento, havia um grande número de fotos dela de costas, na frente de outros convidados, o que, segundo ela, causou a acusação de ter estragado as fotos do casamento.
Ela termina o seu texto perguntando a opinião das pessoas sobre o fato e se ela teria agido errado. Acho que rolou um embate entre pessoas sem maturidade, mas eu acho que a culpa principal é do fotógrafo. Sim, existem clausulas no contrato de prestação de serviço que nos garantem alguns direitos. Mas, esses direitos não são tirados da nossa cabeça, eles são embasados pelas leis locais. Por exemplo, a Lei de Direitos Autorais do Brasil aponta que tudo o que é produzido por mim em um evento social pertence a mim e não ao meu contratante. Eu forneço para ele o direito de uso, mas eu continuo sendo o dono. Da mesma forma, posso usar qualquer dessas imagens em meu portfólio, seja impresso ou on-line, sem a necessidade de autorização do contratante. Na realidade, segundo a Lei, o contratante precisa de minha autorização para usar essas imagens em redes sociais. Mesmo com toda essa proteção da lei, o que necessita prevalecer é o bom senso. Ninguém vai processar cliente por ter postado imagem em rede social sem autorização, da mesma forma que não vou acionar ninguém judicialmente por ter fornecido foto minha para a loja de aluguel de roupas postar em suas redes sociais.
Já lidei com pessoas extremamente chatas em festas sociais. Pessoas que se recusaram a serem fotografadas. Você tenta argumentar que é uma lembrança para os donos da festa, mas se a pessoa mesmo assim se recusa você deixa quieto e parte para o próximo convidado. Sem estresse e sem conflito. Tudo se resolve com bom senso. No caso aqui citado, o fotógrafo ficou ofendido e quis valer seus direitos, mesmo que isso causasse um clima ruim na festa. Da mesma forma, ele quis marcar o seu ponto de vista ao fazer fotos que sempre mostravam a convidada de costas. Sabemos que isso só aconteceria se ele quisesse de propósito estragar as imagens para fazer valer o seu ponto de vista. Aqui fica registrado um comportamento que vejo muito em alguns fotógrafos: o de se achar a coisa mais importante presente no evento. Acredito que o fotógrafo tem suma importância no evento, pois ele é o responsável por registrar as memórias do que está acontecendo, mas ele não é o destaque. O destaque são os seus clientes e quando o fotógrafo não percebe isso acabamos tendo várias atitudes infantis por parte desse profissional.
Se você está começando na área da fotografia de eventos, sempre pense pelo lado de se vale a pena criar atritos, crias indisposições ou conflitos em um evento para fazer valer direitos que podem ser extremamente maleáveis do ponto de vista profissional. Tudo fica mais tranquilo e mais fluido quando os conflitos são contornados com bom senso.
Fonte: Petapixel