Antes de ler esse texto, que vai ficar um pouco longo, eu indico vocês darem uma olhada no texto Fotometria: O EV (valor de exposição) na fotografia.
Falando especificamente de câmeras fotográficas, existem diversos tipos de equipamentos disponíveis no mercado. Alguns possuem lentes fixas, outros podemos trocar as lentes (intercambiáveis). Alguns funcionam apenas no modo automático, e outros trabalham com a possibilidade de regulagens de todas suas funções. E, além disso, temos câmeras com diversos tipos de sensores fotográficos. Cada equipamento deve se adequar as necessidades do fotógrafo, e elas são diversas. Se você é um fotógrafo amador que quer mobilidade e um equipamento leve, então deve escolher uma câmera compacta ou uma mirrorless de pequeno porte. Se você é um profissional que precisa de alta qualidade de imagem então pode optar por uma reflex ou mirrorless avançada. E se o intuito é trabalhar com publicidade de alto desempenho o caminho é uma câmera full frame ou uma câmera de médio formato.
Porém, independente da categoria ou formato de seu equipamento, eles vão trabalhar com as mesmas três variáveis de controle de luz: a velocidade de obturador, a abertura do diafragma e a sensibilidade (ou velocidade) ISO.
Velocidade do Obturador
Existiram diversos tipos de obturador nas câmeras fotográficas ao longo da história, mas hoje o mais comum é que o obturador seja um mecanismo mecânico formado por duas cortinas que se encontra dentro da câmera logo à frente do sensor fotográfico. Assim que você aperta o botão disparador da sua câmera essa cortina abre, deixando a luz entrar, e logo se fecha novamente, deixando a câmera preparada para a próxima foto. Então o obturador é responsável pelo tempo de exposição da foto, ou seja, pelo tempo em que a luz que entra pela lente vai incidir sobre o sensor.
O tempo em que o obturador vai ficar aberto pode ser regulado no corpo da câmera. Dessa maneira existem baixas velocidades de obturador, médias velocidades de obturador e altas velocidades de obturador. Normalmente um obturador pode ficar aberto por um tempo máximo de 30 segundos ou em velocidade máxima de 1/8000 (um oito mil avos de segundo). Se um obturador fica aberto muito tempo ele vai deixar entrar uma grande quantidade de luz. Se ele fica aberto pouco tempo vai deixar entrar uma pequena quantidade de luz. Normalmente, as velocidades de obturador podem ser representadas da seguinte maneira em nossa câmera.
- 1/8000 s
- 1/4000 s
- 1/2000 s
- 1/1000 s
- 1/500 s
- 1/250 s
- 1/125 s
- 1/60 s
- 1/30 s
- 1/15 s
- 1/8 s
- 1/4 s
- 1/2 s
- 1 s
Perceberam como as velocidades do obturador quase dobram de uma para a outra? Isso existe para que elas sejam compatíveis com o EV. Se você está fotografando com a velocidade de obturador de 1/250, sua foto está sendo realizada com uma determinada quantidade de luz. Se aumentar a velocidade para 1/500 então você está perdendo metade da luz que tinha antes. Dessa forma você perdeu 1EV em sua foto. Ao contrário, se decidir diminuir a velocidade do seu obturador para 1/125, então você está ganhando o dobro da luz, ou seja, você ganhou 1EV de luz. Entenderam como essa relação funciona? Quanto mais rápido o obturador, menor a quantidade de luz na foto, quanto mais lento o obturador maior será a quantidade de luz na foto.
Nesse momento alguém pode notar que existem outras velocidades de obturador na sua câmera que não estão representadas acima. O que acontece é que as câmeras eletrônicas trouxeram uma comodidade a mais para nossa fotografia. As câmeras mecânicas trabalham com a velocidade de obturador ganhando ou perdendo 1EV. As câmeras eletrônicas, com foco automático, trouxeram a possibilidade de que as velocidades de obturador sejam trabalhadas a cada 1/3 de EV. Podemos notar que entre o 1/250 e o 1/500 (com 1EV de diferença) apareceram mais duas velocidades: o 1/320 e o 1/400. A possibilidade de trabalhar de terço em terço deixa o processo de acerto da exposição da fotografia mais preciso.
Mas, a velocidade do obturador controla apenas por quanto tempo a luz irá entrar na câmera? Não, a velocidade do obturador também apresenta um efeito colateral muito importante em nossas fotos e que deve ser bem entendido. Quanto mais rápido o obturador se move, maior é a capacidade de congelar o movimento de objetos na foto. Quanto mais lento é o movimento do obturador, maior a probabilidade de objetos que estão em movimento borrarem a foto. Isso mesmo, a velocidade do obturador é responsável por congelar objetos em movimento. Quanto mais rápido o obturador, mais os objetos em movimento estarão congelados na foto.
Se você vai fotografar uma corrida de carros é impossível fazer esse trabalho com uma baixa velocidade de obturador. Da mesma forma que fotografar objetos com pouca luz, tipo o céu estrelado, é necessário fazer uma longa exposição, com a velocidade do obturador muito baixa. A figura abaixo mostra uma dançarina que foi fotografada com uma velocidade de obturador muito baixa, borrando a foto, e logo depois fotografada com uma velocidade de obturador mais rápida, onde o movimento fica congelado.
Da mesma forma, na foto abaixo, temos uma imagem feita em um parque de diversões, onde os brinquedos em movimento estão borrados por conta da baixa velocidade do obturador.
Dessa forma, no momento da foto, não só a quantidade de luz da imagem deve ser levada em consideração, mas também a natureza do objeto que estamos fotografando. Se ele está em movimento ou se está em repouso.
Uma outra coisa importante voltada para a velocidade do obturador é a questão da firmeza da mão do fotógrafo e também a distância focal da lente que você está utilizando. Nem todo mundo tem a mão firme. Alguns mais do que os outros. Baixas velocidades de obturador podem causar fotos tremidas, pois o obturador fica aberto tempo suficiente para o deslocamento da câmera na mão do fotógrafo ser registrado, gerando uma foto tremida. Cada fotógrafo deve determinar qual o mínimo de velocidade do obturador que ele consegue segurar a câmera sem tremer. Na minha juventude eu conseguia fazer uma foto com velocidade de 1/30. Hoje isso já não é mais possível. Sempre trabalho com no mínimo 1/160.
Da mesma forma, quanto maior a distância focal de uma lente, maior é a possibilidade de um pequeno tremor na câmera causar a falta de nitidez da imagem. Existe uma conta muito simples que fazemos que é multiplicar por 2 o valor da distância focal e utilizar o resultado como guia para a velocidade do obturador. Se está utilizando uma lente de 50mm, então o obturador deve ser de 1/125. Se for uma lente de 200mm então o ideal é uma velocidade de obturador de 1/400.
Só para finalizar essa parte de nosso assunto, cabe lembrar que o obturador é uma peça da câmera que possui vida útil. Uma das vantagens de câmeras mais caras é a maior durabilidade do obturador. Câmeras de entrada possuem durabilidade menor, em torno de 70 mil disparos. Câmeras mais caras possuem durabilidade de 200 mil disparos e algumas profissionais chegam a 300 mil disparos. Lembrando que isso é uma média. Uma câmera de entrada pode ter uma duração gigantesca e uma profissional pode quebrar com a metade do que é prometido. No fundo pode ser também uma questão de sorte. Eu, por exemplo, tenho uma Nikon D40 com 10 anos de idade e mais de 150 mil disparos e que ainda funciona perfeitamente.
Trabalhar sempre com altas velocidades ou disparo contínuo leva a um desgaste maior do obturador. Algumas câmeras possuem obturador híbrido, que é uma mistura de obturador mecânico e obturador eletrônico onde o sistema da câmeras usa a ativação do sensor como parte da velocidade, dando uma vida média maior à parte mecânica do obturador. Algumas câmeras mirrorless e as compactas trabalham apenas com obturador eletrônico com acionamento do sensor na velocidade regulada na câmera.
Como tudo na fotografia, o entendimento dessa parte da regulagem da câmera só é conseguido com prática e experimentação. No próximo texto vamos falar sobre a abertura do diafragma.