Mês passado ministrei uma palestra sobre flash dedicado aqui na cidade. É o tipo do assunto onde a platéia precisa ter um conhecimento básico de fotografia e fotometria. Mas, nem sempre isso acontece. Após a palestra percebi que ficaram vária dúvidas e, a principal delas, é como funciona o sistema de medição de luz na fotografia. Pois bem, vamos lá tentar desmistificar isso tudo.
Quando fotografamos ou olhamos para um objeto (ou pessoa ou paisagem) na realidade não estamos vendo esse objeto, e sim a luz que reflete desse objeto e chega até nossos olhos (ou câmera fotográfica). Nossos olhos possuem um orifício com diâmetro regulável, chamado pupila, que se ajusta conforme as condições de luz que encontramos no ambiente. Em situações de muita luz, essa pupila diminui o diâmetro do orifício para que pouca luz entre por ele. Em situações de pouca luz no ambiente a pupila aumenta o tamanho desse orifício para que mais luz entre pelo olho. No caso da câmera fotográfica esse processo é muito parecido. Existem regulagens para controlar a entrada de luz e equipamentos que medem a quantidade de luz necessária para a realização de uma foto, mas tudo começa com o EV (Exposure Value).
O EV, que pode ser traduzido como Valor de Exposição (e que também é chamado de Ponto de Luz pelos fotógrafos mais velhos), é uma unidade de medida que visa medir a quantidade de luz na fotografia. Assim como utilizamos o quilograma para medir peso, o metro para medir distância e litros para medir volume, na fotografia utilizamos o EV como unidade de medida. É aqui que a coisa começa a complicar para quem quer aprender fotografia, pois a relação numérica do EV é um pouco diferente do que as pessoas estão acostumadas. Estamos falando de uma lógica decimal que vai sempre trabalhar com o dobro ou com a metade. O importante é perceber que todas as regulagens de nossa câmera vão trabalhar com os valores de EV.
Existe uma conta matemática bem complicada para determinar o valor do EV, mas não é importante para o fotógrafo saber resolver essa equação. O que interessa é saber a lógica de como isso afeta a exposição de nossas fotos. E a palavra “exposição” é o segredo para a fotografia. Uma foto estar bem exposta significa que ela tem a quantidade certa de luz para a sua realização. Mas, mesmo esse conceito é relativo, pois depende muito do objetivo do fotógrafo. Existem fotos que, segundo a interpretação do fotógrafo, devem possuir menos luz do que o necessário e outras que, também segundo a interpretação do fotógrafo, possuem mais luz. Depende do que o fotógrafo quer mostrar. Então, a exposição correta para uma imagem depende de fatores técnicos e também de fatores subjetivos, pois passa pela interpretação do fotógrafo da realidade.
Para entender o conceito do EV, vamos dar uma olhada na figura a seguir, que é uma relação de 3 fotos, sendo que a foto do centro está com a exposição correta (segundo o fotômetro da câmera). A foto da esquerda tem 1EV a menos de luz, e a foto da direita tem 1EV a mais de luz. Como estamos falando de uma relação decimal a informação que essas imagens me passam é que a foto com 1EV a menos de luz tem a metade da luz existente na foto central, enquanto a foto com 1EV a mais de luz tem o dobro da luz existente na foto central.
É complicado? Sim, um pouco, mas vamos ver o seguinte exemplo. Em nossas câmeras fotográficas temos uma régua de medição de luz, muito parecida com a figura abaixo.
Quando apontamos a câmera para o objeto a ser fotografado, a luz que entra pela lente é medida pelo fotômetro e o resultado da medição é mostrado nessa régua. A fotometria básica nos diz que o ideal é que o marcador fique no centro, ou seja, no zero. Se o marcador está na área positiva, quer dizer que a foto tem mais luz do que o necessário, e se ele estiver na pare negativa, então a foto tem menos luz do que o necessário. Esses marcadores, tanto positivos quanto negativos, estão mostrando a quantidade de EVs da foto.
Se o marcador estiver em +1 quer dizer que a foto tem 1EV a mais de luz. Ou seja, tem o dobro de luz necessária para a foto. Lembram que falei que o EV trabalha em uma lógica decimal de dobro e metade? Então, se o marcador estiver em +2 quer dizer que a foto terá 2EVs a mais de luz, então serão 4 vezes mais luz do que o ideal. E se a régua do fotômetro da câmera tiver o +3 quer dizer que a foto tem 3EVs a mais de luz, ou 8 vezes mais luz. Para o lado negativo é a mesma coisa. Com -1EV temos a metade da luz necessária, e -2EV são 4 vezes menos luz, e -3EV são 8 vezes menos luz.
Normalmente os cursos de introdução ensinam que você deve regular a câmera para que o marcador fique no Zero, mas não explicam a funcionalidade da régua. E por quê é importante saber o que o EV significa? Porque todas as regulagens da câmera trabalham com EVs. E quando você começa a entender a parte mais complexa da fotometria, ou trabalhar com flash, esse conhecimento faz falta.
Vamos complicar mais um pouco. Na próxima Figura temos 5 fotos. A do centro está com a exposição correta (segundo o fotômetro da câmera), e nas fotos da esquerda temos uma com -1EV de luz e uma com -2EV. Na direita temos uma foto com +1EV de luz e uma com +2EV de luz. Na prática, isso quer dizer que a foto com -1EV de luz tem a metade da luz da foto com fotometria no zero e a imagem com -2EV de luz tem 4 vezes menos luz do que a foto do centro. Lembrem que é uma relação decimal, os valores sempre vão dobrar em relação ao anterior. Se tivéssemos uma foto com -3EV de luz ela teria 8 vezes menos luz do que a foto do centro. Do lado direito a mesma coisa. A foto com +1EV possui o dobro de luz da foto central, enquanto a foto com +2EV possui 4 vezes mais luz.
Parece uma relação ilógica, mas não é. Entender essa nomenclatura é muito importante, pois toda as câmeras fotográficas e até os Flash (dedicados, automáticos ou manuais) vão trabalhar com essa relação de valores. Sem entender o funcionamento do EV não é possível dominar totalmente o funcionamento do seu equipamento.
Essa foi uma pequena introdução para uma série de textos que serão publicados aqui no blog. Vamos passar pelas três regulagens principais da câmera e entrar no processo de fotometria avançado. Vamos desmistificar um pouco todo esse processo nos próximos textos e espero que seja útil para todos vocês que estão iniciando na fotografia.
Para ajudar um pouco com um exemplo visual, aqui vai um vídeo que está em meu canal do Youtube e que faz parte do curso de Introdução à Fotografia.
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