Não é a primeira vez que uma imagem gerada por Inteligência Artificial vence um concurso fotográfico, mas gerou a mais recente polêmica em relação a esse tipo de produção. Esse caso me lembra uma história em quadrinhos que eu lia muito na minha adolescência. Era o Homem Aranha 2099. Nesse futuro, passado no ano de 2099, o irmão do personagem principal era diretor de vídeos. E ele trabalhava em casa, em seu escritório, apenas com a ajuda de um computador que gerava as imagens que ele precisava. Nesse episódio em específico, ele estava fazendo um vídeo contando uma história com índios norte americanos. Ele pedia e o computador inseria personagens, criava interações e construía as paisagens e cenários necessários. Eu vejo nesse ponto algo profético em relação ao que está começando a acontecer com a IA atualmente. Estamos gerando imagens que são confundidas com fotos reais e logo, quem sabe, nem vamos mais precisar de atores para construirmos vídeos.
O que aconteceu na Austrália foi um grande golpe publicitários. A equipe responsável pela empresa de imagens de IA, Absolutely AI enviou uma imagem produzida pela sua inteligência artificial para um concurso de fotografia chamado DigiDirect que acontece mensalmente e premia a foto vencedora com a quantia de US$ 100. A foto em questão, seria de um surfista no mar, perto da praia, com as ondas fazendo sombra em ralação ao nascer do sol. A foto, que foi descrita como sendo feita por um drone, foi enviada como sendo de autoria de Jan van Eyck, que é o nome de um pintor famoso por ser um dos primeiros inovadores do que ficou conhecido como pintura holandesa primitiva e um dos representantes mais significativos da arte renascentista do norte.
Depois que a foto foi premiada, os responsáveis pela Absolutely AI vieram a público e esclareceram o ocorrido. Também abriram mão do prêmio e devolveram o dinheiro recebido. Tudo não passou de um golpe publicitário para mostrar a eficiência do programa de geração de imagens. Segundo o informe oficial da empresa: “Não é exagero dizer que chegamos ao ponto em que a máquina é agora o artista superior ao homem. A história pode olhar para trás em nosso pequeno experimento fotográfico como um ponto de virada quando começamos a perceber o novo mundo em que vivemos.” E para finalizar vem a parte mais chocante: “Não precisávamos acordar ao nascer do sol, dirigir até a praia e enviar o drone para capturar a imagem. Criamos esta imagem do nosso sofá em Sydney inserindo texto em um programa de computador”.
Quando digo chocante é por conta da arrogância dessa galera. Do ponto de vista da tecnologia, como já disse em alguns textos, acho tudo normal. As coisas evoluem e a computação gráfica chegaria a esse ponto algum dia. Ainda precisamos resolver alguns entraves para uso em larga escala da tecnologia. O principal deles é se esses programas de IA criam imagens do zero ou simplesmente recortam partes de imagens já existentes, e com direitos autorais garantidos, para criar um mosaico. O segundo problema é realmente ligado aos direitos autorais de tudo isso. Quando a fotografia surgiu também houveram grandes preconceitos sobre se ela seria algo imbuído de criatividade humana ou apenas um processo de reprodução. Foi um longo caminho até ela ser aceita no conjunto das artes plásticas. As imagens por IA vão seguir o mesmo tortuoso caminho e em algumas décadas elas vão ser parte de nosso cotidiano.
Fonte: Petapixel