Vocês se lembram dessa treta? Ano passado, o álbum Nevermind do Nirvana, um ícone do movimento grunge da década de 90, completou 30 anos de lançamento. Eu tinha 14 anos quando o disco foi lançado e fez parte de minha formação musical, assim como outros discos que completaram 30 anos em 2021 (pensando em gravar um podcast sobre isso). Porém, fora todas as comemorações e edições especiais que cercaram esse aniversário, um fato mais inusitado aconteceu em relação a esse disco.
A capa do álbum mostra um bebê nu. A criança, chamada Spencer Elden, foi fotografada em uma piscina dedicada à prática de natação de bebês. A primeira vista pode parecer uma montagem digital, mas é uma foto real. A banda teve a ideia da capa ao assistir um especial de TV mostrando partos em piscinas. Algumas filmagens foram analisadas, mas o conteúdo era muito explicito para uma capa de disco. Então tiveram a ideia de produzir uma foto mais limpa do ponto de vista gráfico. O fotógrafo Kirk Weddle teve a missão de ir até a piscina e essa aventura resultou em cinco fotos, sendo que a banda se decidiu pela imagem de Spencer Elden, de quatro meses, filho de um amigo de Weddle.
Ano passado, com 30 anos de idade, Spencer Elden, resolveu processar a banda e outras 17 pessoas envolvidas na produção do disco alegando que a imagem é uma nítida representação de pornografia infantil. Essa visão meio deturpada é justificada pela presença da nota de dólar na foto. Segundo o advogado que está liderando o processo, a presença do dinheiro na capa e a criança nua “faz com que o bebê pareça um trabalhador do sexo”. Elden está pedindo uma indenização de US$ 150 mil de cada um dos 17 envolvidos citados. Outra acusação é que os pais dele receberam US$ 200,00 pela foto, mas nunca assinaram um termo de autorização para utilização comercial da imagem.
A defesa do Nirvana (dos administradores do espólio da banda) lutou para que o processo fosse arquivado argumentando que Elden lucrou durante toda sua vida com a foto da capa do disco, visto que refez várias vezes a foto icônica para os mais diversos meios de comunicação e que também vendeu cópias do disco com seu autógrafo na capa pela internet. Além disso, uma das reclamações era a violação do estatutos federais de pornografia infantil e que, segundo esse estatuto, o crime já teria expirado há mais de 10 anos. Ao que parece toda essa argumentação rendeu frutos e o juiz Fernando M. Olguin de um Tribunal Distrital dos Estados Unidos na Califórnia indeferiu o processo. A equipe de advogados de Elden tem até o dia 13 de janeiro para refazer o pedido ou ele será arquivado permanentemente.
Existe uma tendência no mundo da música pop de processos envolvendo bandas e discos que venderam muito e se tornaram ícones da cultura popular. Pessoas que participaram da produção, ou cederam uma foto, ou contribuíram de alguma forma nas composições em discos que explodiram na mídia, acabam processando a banda e gravadoras por achar que receberam pouco por um trabalho que rendeu muito dinheiro. A cantora Clare Torry, por exemplo, processou o Pìnk Floyd requerendo participação nos lucros das vendas do álbum Dark Side of the Moon. É dela a voz na música The Great Gig in the Sky. O que ouvimos na canção é uma improvisação da cantora, já que a banda deixou ela livre para compor a sua participação. Por esse trabalho, que foi gravado em uma noite de domingo, a cantora recebeu £ 30 (que era o cachê padrão para participação de cantores em estúdio). O processo foi resolvido com um acordo e uma quantia não revelada foi paga para Clare, que também passou a ser creditada em todas as reedições do disco que foram lançadas depois de 2005.
Mais um processo que termina bem (dependendo do ponto de vista), mas aposto que não será o último envolvendo grandes artistas e obras importantes.
fonte: Spin