Se você leva a fotografia a sério já deve ter percebido uma coisa frustrante: representação de cores no mundo digital é um inferno. Sim, você faz tudo certo do seu lado, calibrou a câmera com um colorchecker, calibrou o monitor com um calorímetro e, na hora da impressão, pegou o perfil ICC da impressora do minilab e fez os ajustes necessários no photoshop. Mas, no caso dos arquivos digitais, não existe controle quando a foto sai de seu computador.
Você posta a foto nas redes sociais e os seus seguidores vão visualizar aquela imagem nos mais variados tipos de monitores e telas de celular. Cada um calibrado (ou descalibrado) de uma forma diferente. As cores nunca serão representadas da mesma maneira. Outro caso é o seu cliente que leva todas as fotos em pendrive e vai ver essas imagens em uma TV CCE de 32 polegadas com 10 anos de idade. Todas as imagens azuladas. Por isso que sempre entrego algumas fotos impressas. Isso não é bondade, é uma prova para o cliente que as cores das fotos estão certas e bem representadas. Não tenho culpa de onde ele vai visualizar as imagens.
Me dei conta desse abismo sem fundo quando fiz um trabalho publicitário para um cliente aqui da cidade. Era um artesão que produzia lustres de metal. Os lustres poderiam ser entregues em 15 cores diferentes. E essas cores variadas eram o diferencial da marca. Ele estava construindo um site e queria que o cliente pudesse ver essas cores no catalogo on-line. Fui até a sua fábrica e montei um estúdio. Regulei cores, usei colorchecker para acertar o balanço de branco, editei todas as fotos em um monitor calibrado com as amostras de cor do lado. Depois de um trabalho considerável mandei todas as imagens para ele aprovar. No outro dia ele me liga dizendo que as cores estavam horríveis e não chegavam nem perto do original. Me dirigi até o escritório dele e notei que ele estava vendo as imagens em um monitor LG de 15 polegadas (essa história tem uns 10 anos) bem velho. Ai eu percebi que esse dilema não tem solução, pois você controla as cores na produção, mas não controla onde o seu cliente vai visualizar as imagens.
Mas, qual o motivo de contar essa história? Uma outra parte cruel da fotografia digital, e ligada à representação de cores, é a calibração voltada à cor da pele das pessoas. Por anos a calibração dos equipamentos de revelação fotográfica levavam em conta um cartão de cores onde só pessoas brancas eram representadas. Pessoas negras e outros tons de pele, tinham uma representação horrível e muito longe da realidade. Nos anos 80 essa paleta de cores foi atualizada para tons marrons, mas não foi por conta das pessoas e sim da indústria do chocolate que não gostava muito do tom que seus produtos tinham nas fotos. Isso só mudou com a fotografia digital que abraçou de vez essa ideia e a representação de peles negras e marrons passou a ser exibida nas fotografias de maneira mais natural. Basta um bom balanço de branco para acertar os tons.
Agora a Pantone (empresa filial da X-rite) quer que as coisas sejam mais fidedignas. Eles estão lançando o Pantone SkinTone Validated, um programa que ainda está esperando o registro de patente, que visa criar uma tabela de certificação para que os mais variados tons de pele sejam bem representados em monitores e impressões fotográficas. O programa é uma variação do Guia Pantone de representação de tons de pele. O SkinTone Validated utiliza milhares de medições feitas pela empresa e garante que seu catalogo pode representar 110 cores de tons de pele distintas e exclusivas das mais variadas etnias espalhadas pelo mundo. Por fim, a empresa afirma que o programa visa ajudar as empresas de tecnologia a atender à demanda por igualdade e inclusão em seus produtos.
Uma das primeiras empresas a fechar parceria para utilizar o SkinTone Validated foi a BenQ, cujos monitores profissionais possuem qualidade e valores bem aceitos pela comunidade dos fotógrafos profissionais. Alguns dos próximos modelos da empresa já virão com a possibilidade de calibração baseada no tom de pele utilizando a tecnologia da Pantone.
Muito válido quando as empresas de tecnologia produzem produtos que visam a melhoria de um setor. Resta saber quando essas evoluções chegarão até o consumidor comum e aos produtos mais baratos.
Fonte: petapixel