Em 2016 eu escrevi um texto para o Meiobit intitulado “Fotógrafos são como pombos? As vezes sim”. Na verdade era um comentário sobre um texto da fotógrafa Missy Mwac que foi escrito para o site Petapixel. O texto dela mostra com destaque fatos foram notícia naquele ano. O primeiro foi sobre um prédio histórico no sul da Flórida que foi incendiado por três fotógrafos que tentaram fazer um paint light durante a noite. O segundo foi sobre dois turistas que tentaram fazer uma selfie na estátua de Hércules no palácio Loggia dei Militi em Cremona, Itália e acabaram danificando a obra do século XIII. Para finalizar ela cita a Farmington Historic Plantation em Louisville, Kentucky, uma fazenda histórica que proibiu a entrada de fotógrafos simplesmente pelo fato de não respeitarem as regras.
Infelizmente isso acontece. Pessoas perdem noção do perigo ou da responsabilidade quando estão fotografando. Tudo é permitido e as regras de segurança não se aplicam à fotógrafos, pois são seres iluminados e sábios. Mas, não é bem assim. Faz tempo que foi criada a estatística de pessoas que morreram ao tentar fazer uma selfie. São pessoas que caíram de montanhas, se afogaram em rios, despencaram do telhado de edifícios, foram atropeladas por trens ou a idiota que semana passada achou normal pular a grade de segurança de um gigantesco transatlântico só para ter uma foto bacana (felizmente essa última não morreu). Fora isso temos os prejuízos de coisas danificadas e pessoas que são incomodadas. O resultado são locais proibindo a presença de fotógrafos ou cobrando altas taxas para sessões fotográficas, como aconteceu com o Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Mas, alguns lugares tiveram sua paz erradicada pura e simplesmente por conta dos fotógrafos de Instagram. Pessoas que começaram a perseguir as imagens mais exóticas para saciar a sede de novidades de seus seguidores. Uma nova notícia sobre esse tipo de coisa veio do Japão. O histórico distrito de Gion, em Quioto, tem lutado contra o mau comportamento de turistas. Como resultado, Quioto proibiu a fotografia de todas as ruas e propriedades particulares de Gion. O distrito é um lugar bem tradicional com restaurantes e casas de chá. Porém, o principal atrativo é que o local é o lar de muitas Gueixas e suas aprendizes, as Maikos. Os turistas estavam invadindo propriedades particulares e fotografando Gueixas e Maikos sem permissão. Alguns chegaram até a puxar seus quimonos.
Agora a cidade proibiu a fotografia no local e a multa para quem desobedecer é de 10 mil ienes (aproximadamente 100 dólares). Em 2017 Quioto já havia editado um guia de bons modos para turistas, mas parece que a coisa não deu muito certo. Não é só no Japão que a moda do Instagram está destruindo o sossego. Locais como Notting Hill na Inglaterra e a Rue Crémieux em Paris foram invadidas por instagramers (olha que termo bacana) e seus moradores já exigem proibições do ato fotográfico no local. A ilha grega de Rodes proibiu todos os casamentos estrangeiros no local por conta de uma foto (NFSW) de um casal em suas praias. E por fim sempre temos o caso do fotógrafo que fez um ensaio nu em um antigo templo egípcio e acabou na cadeia.
O problema não é a questão de ter regras ou não, mas simplesmente o bom senso. Não são casos isolados. Todos nós conhecemos alguém que quebrou regras ou não teve bom senso para fazer uma foto. Ter uma câmera não exime você de ter responsabilidade.
Ano passado eu gravei um podcast falando, entre outras coisas, dos selfies que levam a morte. Deixo aqui o link para quem tiver curiosidade sobre o assunto.
https://www.megafono.host/podcast/camara-escura/os-selfies-mortais-e-muito-mais