Essa não é uma história recente. Em praticamente todo o mundo civilizado existem discussões sobre a necessidade de que retratos de pessoas utilizadas em publicidade, e que foram alteradas digitalmente, devem conter um aviso informando de que a pessoa representada no anúncio foi alterada. Nós que trabalhamos com fotografia conhecemos a realidade do mercado publicitário. Ninguém retratado para publicidade é real nas fotos. E, por um ironia, o mercado que mais utiliza pesadas técnicas de edição é o de cosméticos. Então, as mulheres lindas e maravilhosas que estão nas propagandas de cremes não ficaram daquele jeito por conta do produto que estão vendendo e sim por causa do Photoshop.
Embora pareça ser uma coisa óbvia para quem observa, muita gente acredita nessas imagens. Claro que ninguém observa pessoas com pele de boneca de borracha andando na rua, mas em algum lugar na mente essas pessoas acreditam que o que está sendo mostrado na propaganda pode ser realidade. Só no Reino Unido estima-se que 1,25 milhões de pessoas sofram de anorexia ou bulimia, e os números crescem a cada ano. Mais de 1 milhão de pessoas utilizam drogas que visam melhorar a imagem corporal. De acordo com a Mental Health Foundation , um em cada cinco adultos e um em cada três adolescentes relatam sentir vergonha de seus corpos, e quase 20% de todos os adultos sentem “nojo” quando se trata de sua imagem corporal.
O problema existe e os departamentos de saúde dos países devem enfrentar isso constantemente. A questão da fotografia publicitária não é a única culpada, mas pode ser uma peça importante nesse esquema todo. Por isso o parlamentar conservador Dr. Luke Evans, no Reino Unido, está propondo uma Lei que obriga as fotos com manipulação de proporção de seres humanos possuírem um aviso de que aquilo não é real. “Quando eu era um clínico geral, principalmente mulheres jovens com distúrbios alimentares falavam sobre o fato de serem movidas por essas imagens e pensarem que precisam ter um físico perfeito”, disse Evans. E, segundo ele, essa tendência está se alastrando entre os homens também, principalmente os esportistas.
Pensando nessas questões, Evans apresentou um projeto que exige de anunciantes, emissoras e e editores que exibam um aviso nos casos em que uma imagem de um corpo humano ou parte do corpo tenha sido alterada digitalmente em suas proporções para fins comerciais. Observem que não estamos falando do famoso tratamento de pele, mas sim quando proporções forem alteradas.
“Simplesmente, se alguém está sendo pago para postar uma foto na mídia social ou se anunciantes, emissoras ou editores estão ganhando dinheiro com uma fotografia editada de qualquer forma, eles devem ser honestos e diretos sobre a edição. ”, diz Evans.
Esse tipo de projeto já pipocou em todos os locais do mundo, mas aqui temos pequenas diferenças que merecem ser abordadas. A primeira é que Evans parece ter apoio de todos os partidos para o seu projeto, o que simplifica sua aprovação e implementação. A segunda é que ao colocar as redes sociais no mesmo nível dos veículos mais tradicionais de propaganda, o Parlamentar também colocou os influenciadores digitais na obrigação de avisarem seu público quando alguma imagem alterada for publicada.
Eu acho que isso não traria problema nenhum para a arte fotográfica. Acho que até melhoraria tudo de uma maneira interessante, pois duvido que influenciadores queiram suas fotos com marcas avisando de alterações digitais e vão procurar por fotógrafos que trabalhem de forma mais natural. Isso vai exigir mais criatividade e controle de luz do fotógrafo. Acho que todo mundo sai ganhando.
Mas, e vocês? O que acham se esse tipo de legislação de espalhar pelo mundo?
Fonte: Petapixel.