Semana passada ministrei um workshop de flash dedicado TTL aqui na cidade de Presidente Prudente. Uma das características que temos que informar nesse tipo de curso é que toda câmera fotográfica possui uma velocidade máxima de sincronismo de obturador para com o disparo do flash. Não é uma limitação do flash e sim uma limitação mecânica do obturador da câmera. Fui obrigado a informar aos alunos também que esse tipo de limitação provavelmente vai desaparecer nos próximos 10 anos em todos os modelos de câmeras. Isso tudo por conta do lançamento da Sony a9 III e sua tecnologia de obturador global.
A tecnologia não é nova, mas está presente em câmeras de cinema muito mais avançadas. Um sensor fotográfico normal faz a leitura da informação da imagem linha por linha, como se fosse um escâner. Ele praticamente acompanha o movimento das duas cortinas mecânicas do obturador. A tecnologia de obturador global da Sony funciona de forma diferente. O obturador mecânico não existe nesse modelo e cada pixel do sensor é como se funcionasse como um obturador independente. A diferença, nesse caso, é que o sensor capta a imagem com todos os pixels acionados ao mesmo tempo. Essa nova maneira de captar a imagem apresenta várias vantagens e uma desvantagem.
Uma das vantagens mais interessante é eliminar a distorção em imagens captadas onde objetos se movem com grande velocidade como, por exemplo, a hélice de um avião. Nos sensores tradicionais, como a leitura da imagem é feita linha a linha, objetos em alta velocidade podem ser captados mais de uma vez pelo movimento de leitura do sensor. No obturador global da Sony esse problema é eliminado. Outra vantagem é que serão possíveis velocidades máximas de obturador muito altas. A maior parte das câmeras trabalha com velocidades máximas de 1/8000 (1/4000 nas câmeras mais baratas) enquanto a a9 III pode alcançar velocidade máxima de 1/80.000 no modo normal de disparo e até 1/16.000 quando o modo de disparo contínuo for ativado. Junto a isso, a câmera consegue sincronizar o disparo do flash em qualquer velocidade de obturador, até mesmo em 1/80.000, o que é uma boa pedida para quem fotografa moda com flash durante o dia e não quer utilizar o modo de sincronismo rápido que tende a diminuir a vida útil do flash. E, por fim, a câmera não possuí mais um obturador mecânico, o que elimina uma das peças que normalmente se deteriora com o uso e elimina o ruído causado pelo obturador. É possível fotografar em silêncio com a câmera, o que é bem-vindo em apresentações de teatro e outras atividades artísticas onde o silêncio é necessário.
Mas, nem tudo são flores. Uma coisa que chamou muito a atenção durante o anúncio da nova câmera é que o ISO base da câmera ficou em 250. Normalmente o menor ISO de uma câmera, onde ela apresenta a melhor performance de ruído, cor e nitidez, além da maior faixa dinâmica, fica em 100. Mas, na Sony a9 III ele está em 250. Pode parecer pouca coisa, mas existem muitos fotógrafos que precisam dessa qualidade máxima. Imagens que são produzidas para propagandas em meios que exigem qualidade, ou quem precisa trabalhar com filmagem em ambiente com muita luz. Normalmente o obturador em filmagem não é muito rápido, o que exige utilizar o menor ISO da câmera. Fotógrafos patrocinados pela Sony, e que já fizeram testes com a câmera, afirmam que essa diferença não é tão gritante assim e que em casos de filmagens a utilização de filtros ND resolve todo o problema. Mas, qual o motivo de isso acontecer nesse equipamento?
O pessoal do Petapixel levantou essa lebre em um texto publicado nessa semana. Segundo eles, a arquitetura dos sensores com obturador global exigem um preço por conta das vantagens da nova tecnologia. Como o sensor necessita captar todas as informações ao mesmo tempo, então são necessários mais circuitos e maior poder de processamento. Como o sensor está mais carregado de circuitos, sobra menos espaço para os fotodiodos que, resumidamente, são o elemento que captam a luz. Quanto maior o fotodiodo melhor será a captação de luz, menor será o ruído, e melhor será a qualidade de imagem real da câmera. Aliás, a principal vantagem de um sensor full frame para os sensores menores é a sua área total ser maior, o que permite que os fotodiodos sejam bem maiores. Então, para ter as vantagens apresentadas pela tecnologia a empresa sacrifica a qualidade de imagem geral do sensor.
Ainda não existem comparações práticas, pois a câmera ainda não foi lançada oficialmente e testes em ambientes controlados ainda não foram executados, mas o pessoal do Petapixel estima que, talvez, a qualidade de imagem da nova a9 III possa ficar igual, ou um pouco inferior, à qualidade geral do modelo antecessor. Mas, felizmente, a tecnologia sempre evolui. O obturador global apresenta muitas vantagens e provavelmente o seu desenvolvimento vai continuar e, possivelmente, ser adotado por todas as outras empresas de tecnologia fotográfica. Esse é apenas o primeiro passo em uma nova tecnologia, assim como foi o lançamento das primeiras câmeras mirrorless. Muita gente não gostou na época e até apontou vários problemas e hoje elas praticamente dominaram o mercado.