Quando a fotografia surgiu, existiram muitos sentimentos conflitantes em relação a ela. O primeiro foi o de surpresa e animação, já que agora retratos e as mais diversas reproduções de coisas existentes no mundo poderiam ser executadas rapidamente. Não se dependia mais de desenhistas ou pintores para isso. Mas, outras reações também foram bem fortes. Para vocês terem uma ideia da coisa, até a Igreja Católica se reuniu para decidir se a fotografia era pecado ou não. Mas, puxando a conversa para o tema desse texto, uma das polêmicas causadas pela nova tecnologia era se a fotografia poderia ser considerada como arte. Lembrando que, naquela época, o conceito de arte estava muito mais ligado à noção de ter habilidades (pintura, desenho, escultura, dança, etc) do que a mensagem ou tema da obra (que é o conceito atual). Para a pintura a fotografia foi ótima, pois como não tinha mais o objetivo de representar os objetos que existiam, ela ficou livre para embarcar nos mais arrojados e abstratos movimentos artísticos. Mas, na fotografia a coisa seguiu dois lados.
Tivemos movimentos que afirmavam que a fotografia era apenas uma tecnologia de representação, livre das emoções e mensagens da arte, e movimentos que tentaram levar a fotografia para os campos artísticos. Um desses movimentos da fotografia artística foi o Picturialismo. Segundo a Enciclopédia Itaú Cultural, o “O movimento pictorialista eclodiu na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos a partir da década de 1890, congregando os fotógrafos que ambicionavam produzir aquilo que consideravam como fotografia artística, capaz de conferir aos seus praticantes o mesmo prestígio e respeito grangeado pelos praticantes dos processos artísticos convencionais.” Os picturialistas tentavam copiar a estética das obras feitas em pinturas e gravuras. Muitas vezes, após a fotografia ser feita, eles trabalhavam no negativo, raspando a placa de vidro, ou aplicando gelatinas coloridas. Uma prática comum entre os picturialistas era destruir o negativo após a obra acabada. Assim como na pintura, aquela obra possuía apenas uma cópia e não poderia ser reproduzida. O movimento foi muito estigmatizado na época e durou apenas até 1920, mas nos dias de hoje as imagens produzidas pelos membros do movimento são muito valorizadas.
E uma foto do movimento picturialista foi vendida nessa semana por US$ 11,8 milhões, o que faz dela a segunda foto mais cara da história. Estamos falando da obra The Flatiron fotografada por Edward Steichen em 1904. A imagem retrata o edifício de mesmo nome que se encontra em Nova Iorque. Quando fotografado, o edifício tinha apenas 2 anos de finalização de sua construção. Na realidade, a imagem é uma homenagem feita para Alfred Stieglitz, seu mentor, que também havia fotografado o edifício apenas 1 ano antes. A imagem possui apenas 3 impressões. Cada uma com tonalidade de cor diferente. Duas estão na coleção do Metropolitan Museum. Essa terceira estava sob a guarda da família de Steichen até 1990 quando foi adquirida pelo cofundador da Microsoft, Paul Allen, para sua coleção particular. A obra foi uma das 150 fotografias da coleção de Paul Allen que foram a leilão após o seu falecimento.
A expectativa era que a fotografia fosse vendida por algo em torno de 2 a 3 milhões de dólares, mas no final o martelo foi batido em US$ 11,8 milhões. Um valor que concede a essa imagem o posto de segunda foto mais cara do mundo. A fotografia mais cara do mundo é Le Violon d’Ingres , de Man Ray, que retrata Kiki de Montparnasse em 1924. A obra foi leiloada em maio desse ano por US$ 12,4 milhões.