Eu pisquei e passaram 30 anos de A Morte do Superman (na época em que foi lançada no Brasil ainda era Super-Homen) a história em quadrinhos que mais vendeu no mundo e uma das que mais gosto. Tenho visto vários textos comemorativos sobre o tema e alguns podcasts (eu também gravei um podcast sobre o tema, mas já faz alguns anos. Veja o programa logo no final desse texto), mas gostaria de dar aqui o meu testemunho sobre a época que foi lançada e seu impacto sobre mim.
Na época do lançamento, o Superman possuía 4 revistas mensais nos Estados Unidos (Superman , Action Comics , The Adventures of Superman , Superman: The Man of Steel ) e a história se desenvolvia de modo contínuo nessas quatro revistas, mesmo que cada uma possuísse sua própria equipe de criação. Então, para acompanhar uma história completa do personagem era necessário comprar as 4 revistas. Para coordenar o desenvolvimento dos argumentos, as equipes criativas se encontravam uma vez por ano para planejar os próximos 12 meses da história. Em 1992 o planejamento era levar o relacionamento de Clark Kent e Lois Lane para o próximo nível e casar os dois personagens. Mas, veio a notícia de que a Warner, dona da DC, estava planejando fazer o casamento dos personagens na série Lois and Clark: the new adventures of Superman e os planos para os quadrinhos deveriam ser adiados até que o evento acontecesse na TV. Foi nesse momento que Jerry Ordway (um dos escritores da equipe junto com Dan Jurgens , Roger Stern , Louise Simonson e Karl Kesel) simplesmente disse: vamos matá-lo. Essa era uma piada interna recorrente no grupo, pois sempre que eles chegavam a um impasse criativo Ordway jogava essa sugestão. Mas, dessa vez foi o primeiro momento que levaram essa pensamento a sério e foi o que aconteceu.
The Death of Superman começou a ser publicado em dezembro de 1992 e teve seu fim em outubro de 1993. Como existe um atraso entre as publicações americanas e o que é publicado no Brasil, a serie só chegou aqui 1 ano depois, e mesmo assim com ressalvas. A cronologia da DC estava 2 anos atrasada no Brasil, mas os editores queriam aproveitar toda a comoção criada com o evento nos Estados Unidos e adiantaram tudo em 1 ano em terras tupiniquins. Isso foi meio louco, visto que várias situações e personagens citados durante a série ainda não tinham acontecido por aqui, como o fato de a Liga da Justiça que aparece durante a Morte do Superman ser totalmente diferente da Liga que estávamos lendo aqui no Brasil. O lançamento nacional não foi feito em revistas regulares como aconteceu no original. Tivemos tudo condensado em edições especiais e minisséries. Tivemos a “Morte do Superman”, um especial encadernado com capa em alto relevo com o símbolo do heróis sangrando (ainda no formatinho), depois tivemos a minissérie “Funeral para um Amigo” em 4 edições, em seguida o volume encadernado “Superman Além da Morte” e por fim a série de 3 volumes encadernados chamados no Brasil de O Retorno do Superman (que no original possuem o nome de Reign of the Superman!).
O impressionante é que ninguém estava esperando o sucesso que essa história alcançou. As pessoas e a mídia encararam a Morte do Superman como um evento de impacto nacional nos Estados Unidos. Jornais fizeram editoriais, revistas publicaram matérias de capa. Pessoas que nunca leram histórias em quadrinho fizeram fila para comprar a edição nº75 da revista Superman de janeiro de 1993 onde o heróis encontrou a morte nas mãos do monstro Doomsday. Nas primeiras 24 horas de lançamento da revista foram vendidas 3 milhões de cópias. Estima-se que a revista vendeu mais de 6 milhões de cópias só nos Estados Unidos. No Brasil a saga completa, composta por todos os encadernados e minisséries lançadas originalmente, vendeu perto de 1 milhão de cópias, o que é um número bem expressivo no mercado nacional.
Quando o primeiro encadernado foi lançado no Brasil eu tinha apenas 15 anos de idade. A minha família era bem bem pobre e não havia espaço no orçamento para comprar histórias em quadrinhos. Para ter acesso ao gibi (ainda chamam quadrinhos desse jeito?) eu economizei no passe de estudante e fui a pé para casa durante quase 20 dias para poder comprar a obra. O Superman é o meu personagem de quadrinhos favorito até hoje. Tenho um grande carinho pelo herói e sou fã das produções em todas as mídias. Quando soube que ele iria morrer meu coração ficou partido. Li os quadrinhos com ansiedade e admito que até chorei nas páginas finais. Foi triste e fantástico acompanhar a minissérie Funeral para um Amigo onde temos os impactos gerados pela morte do personagem nos outros heróis e, principalmente, nos personagens mais próximos de Clark como seus pais e Lois Lane. O encadernado Super-Homem Além da Morte é uma viagem pelo mundo dos espíritos até o ponto em que o Homem de Aço deve voltar o mundo dos vivos e, finalmente, O Retorno do Super-Homem onde temos o aparecimento de 4 diferentes heróis e o desfecho final.
A Morte do Superman também teve duas animações produzidas pela DC. A primeira, lançada em 2007, mostra uma história adaptada e com fim bem diferente do mostrado nos quadrinhos, mas é um desenho muito bacana e tem dois fatores nessa produção muito positivos. O primeiro é que a versão em DVD contém um documentário onde a equipe criativa das revistas do Superman contam todos os detalhes de como foi a produção e os impactos da saga da Morte e do Retorno do Superman. O segundo ponto é que provavelmente a trilha sonora do desenho é uma das melhores produções de todos os tempos para músicas de heróis. Vale a pena dar uma olhada (ouça aqui a abertura da animação). Uma segunda animação foi produzida em 2018 e dividia em duas partes. A primeira é The Death of Superman e a segunda parte se chama The Reign of the Superman. Muito boa a animação e chega bem perto da história em quadrinhos, mas é tudo adaptado para o momento atual do universo DC (Novos 52) e o final segue um caminho bem diferente, mas ainda assim é um bom entretenimento. Também temos que lembrar que A Morte do Superman foi utilizada como parte do argumento do filme Batman vs Superman de 2016.
Por fim, cabe lembrar que essa saga das histórias em quadrinhos teve várias republicações ao redor do mundo, mas uma versão definitiva, pelo menos no Brasil, está sendo lançada pela editora Panini. A edição possui inacreditáveis 1184 páginas e contém em seu interior toda a saga já publicada no Brasil além de materiais complementares inéditos. Uma edição muito bonita que custa R$ 599,00. Muito dinheiro por uma história em quadrinhos, eu concordo, mas que deu vontade de ter é inegável.
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