E a Kodak se meteu em uma saia justa por conta de uma postagem no Instagram que usuários chineses não gostaram muito. Típica situação onde tentar arrumar o problema acaba causando mais dores de cabeça. Antes de falar dessa treta, cabe lembrar que nenhuma grande empresa do mundo fica muito confortável em entrar em polêmicas com a China. Tudo isso por conta do grande mercado consumidor que o país representa. Outras empresas do ramo fotográfico, como a Leica, já tiveram problemas com postagens em redes sociais e simplesmente se curvaram e pediram desculpas causar ao causar desconfortos com o povo chinês.
O caso da Kodak é mais um entre tantos. O Instagram da empresa apresenta trabalhos de fotógrafos renomados de todo o mundo. Recentemente a empresa compartilhou uma galeria de imagens do fotógrafo francês Patrick Wack contendo 10 fotos feitas por ele na região de Xinjiang. Essas fotos estão disponíveis na própria conta do Instagram do fotógrafo e fazem parte de seu próximo livro chamado Dust. Na conta do fotógrafo, juntamente com as imagens, temos um texto que aponta que “a região tem estado no centro de um clamor internacional após o encarceramento em massa de sua população uigur e outras minorias muçulmanas”. O fotógrafo também afirma que o seu livro é “ uma narrativa visual da região e é um testemunho de sua queda abrupta em uma distopia orwelliana ”. Wack atualmente reside em Berlim, mas morou por 11 anos na China.
Claro que a postagem do fotógrafo incomodou vários usuários chineses e o burburinho nas redes sociais foi o suficiente para a Kodak remover a sua postagem com as fotos de Wack e emitir um comunicado oficial em sua conta:
“Conteúdo do fotógrafo Patrick Wack foi postado recentemente nesta página do Instagram. O conteúdo da postagem foi fornecido pelo fotógrafo e não foi de autoria da Kodak. A página do Instagram da Kodak tem o objetivo de estimular a criatividade, fornecendo uma plataforma para a promoção do meio fotográfico. Não se destina a ser uma plataforma para comentários políticos. As opiniões expressas pelo Sr. Wack não representam as da Kodak e não são endossadas pela Kodak. Pedimos desculpas por qualquer mal-entendido ou ofensa que a postagem possa ter causado. “
Porém, como toda ação gera uma reação, a Kodak pode ter feito sua parte para ficar de bem com o povo e o governo chinês, mas recebeu uma pancada igualmente negativa do lado ocidental. Ariane Kovalevsky, diretora da Inland Stories , uma cooperativa internacional de 11 fotógrafos documentais que inclui Wack, comentou: ‘Uma empresa que trabalha com fotografia não deveria ter medo de se posicionar em um projeto tão importante para os direitos humanos”. O New York Times escreveu que uma empresa, cujos produtos foram utilizados por décadas para registrar os acontecimentos políticos, apontar que não querem ser políticos é uma atitude muito estranha.
Wack afirma que foi fortemente vigiado pelo governo chinês em suas viagens a Xinjiang e que não foi permitido a ele fotografar prisões, campos de trabalho ou qualquer outra cena que apontasse a repressão do governo. Apenas imagens de teor estético foram permitidas. No local, segundo organizações de direitos humanos, uigures e outros grupos minoritários muçulmanos foram submetidos a trabalhos forçados e genocídio por parte do Governo Chinês. Segundo o fotógrafo, o seu livro de imagens mostra apenas as mudanças da paisagem: “mostrar como em poucos anos a região mudou radicalmente e se tornou outro mundo […] Em 2016 ainda estava cheio de cores: Você tinha cúpulas douradas e símbolos muçulmanos por toda parte e mulheres usando véus. Em 2019, tudo isso havia desaparecido.”
Esse é um tipico caso onde tentar minimizar um problema pode se transformar em uma bola de neve um pouco maior.
Fonte: Dpreview